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A arte resistente dos povos originários na ótica de Xadalu

Em virtude das chuvas que arrasaram o Rio Grande do Sul, Xadalu precisou adiar sua vinda ao Rio | Foto: Denison Fagundes/Divulgação

O artista indígena Xadalu Tupã Jekupé inicia neta quinta-feira (23) uma residência artística numa das salas do Museu Nacional de Belas Artes (MNBA). O trabalho que resultar desta residência, que vai até março do próximo ano, será doado ao acervo do MNBA.

O ateliê temporário estará aberto à visitação do público nos dias 23, 24, 28 e 29, das 15 às 17h. O número permitido é de até 15 pessoas, em razão de o Museu seguir em obras de restauração.

No sábado (25), de 11h às 13h, será promovida uma roda de conversa entre Xadalu, o artista Carlos Vergara e a curadora Sandra Benites. A mediação é de Simone Bibian, técnica em Assuntos Educacionais do MNBA. Serão distribuídas 30 senhas meia hora antes do início do evento.

Devido ao alagamento da casa e ateliê de Xadalu em Porto Alegre, foi preciso remarcar o evento, que aconteceria, a partir de 16 de maio, coincidindo com a Semana Nacional de Museus.

Como artista indígena, nascido no leste do pampa gaúcho, Xadalu descreve seu trabalho como questionador da História, buscando sua releitura decolonial, mas usando o suporte das imagens coloniais que estão disponíveis em livros e nas pinturas da coleção do Museu Nacional de Belas Artes.

"Para mim é um privilégio imenso e um sonho trabalhar dentro do MNBA, para fazer esse trabalho e contar a história do meu povo em uma narrativa que ainda não foi vista, e trazer o pensamento do povo da terra para dentro do museu, para espaços educativos e outros", comenta.

Xadalu propõe o questionamento do processo de catequização imposta pelo invasor com uma releitura em pintura, a "arte indígena contemporânea", como ele descreve.

Durante a residência no MNBA, a intenção do artista é fazer uma ligação entre o espírito do homem e os objetos coloniais, pelos quais havia apego sentimental e de fé. "É o barroco jesuíta guarani agora com roupagem de pintura indígena contemporânea", define Xadalu.

O artista avalia, porém, que sendo uma residência, é preciso deixar a linha de pensamento aberta, porque haverá modificações a todo momento.

Para a diretora Daniela Matera, a residência artística de Xadalu, com a possibilidade de visitação pública, "é um prelúdio para reabertura do Museu Nacional de Belas Artes, que terá uma exposição individual do artista". Matera prevê para o futuro próximo uma atualização "da importância do MNBA no cenário cultural do Brasil, tornando-o uma instituição mais aberta, engajada socialmente, plural e porosa, ampliando seu alcance para a cultura dos séculos XX e XXI, para acolher as múltiplas histórias contadas e manifestadas através da Arte".

Xadalu Tupã Jekupé é um artista indígena. Nascido em Alegrete, no pampa gaúcho, tem sua origem ligada aos indígenas que historicamente habitavam as margens do Rio Ibirapuitã, na antiga terra Ararenguá: os Guarani Mbyá, Charrua, Minuano, Jaros e Mbone.

O artista trabalha com as técnicas de serigrafia, pintura, fotografia e diversos objetos para abordar a tensão entre a cultura indígena e ocidental nas cidades, tendo sua pesquisa voltada aos processos coloniais de catequização dos povos nativos.

Xadalu tem obras nos acervos do MNBA, Museu de Arte Moderna de São Paulo e Museu Nacional, entre outros. Como artista residente, já esteve na França, Espanha, Itália e no território Mapuche, no Chile, pela 35ª Bienal de São Paulo (2023), entre outros.

SERVIÇO

ATELIÊ ABERTO XADALU

Museu Nacional de Belas Arte (Av. Rio Branco, 199 - Centro) | 23, 24, 28 e 29 de maio, 15 às 17h