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As primeiras abstrações de Anna Bella Geiger

Anna Bella Geiger reúne trabalhos inéditos da fase inicial de sua carreira | Foto: Divulgação

O Sesc Copacabana inaugura nesta sexta-feira (14) a exposição "Anna Bella Geiger - Entre o Relevo e o Recorte, mostra inédita que mergulha no universo multifacetado de Anna Bella Geiger, uma das mais influentes artistas brasileiras do século 20. Com uma abordagem inovadora, a mostra destaca os primeiros passos da artista no mundo das artes visuais, explorando sua jornada desde a juventude até o surgimento de sua assinatura artística reconhecida mundialmente.

Celebrando não apenas os 91 anos de vida da artista, mas também os seus 75 anos de contribuições nas artes visuais, a mostra apresentará 29 trabalhos fundamentais que datam da década de 1960, especificamente no período entre 1960 e 1966. Destacando-se a obra Sem título, de 1961, vencedora do 1º Concurso Interamericano de Grabado, na Casa de las Americas, em Havana, no ano de 1962.

A mostra oferece uma visão privilegiada da evolução artística de Anna Bella Geiger. Reunindo uma coleção ímpar de obras, a exposição apresenta uma faceta da artista que muitos ainda não conhecem — uma jovem artista experimental. Embora tenha alcançado renome como gravurista e pioneira na videoarte brasileira, Geiger iniciou sua trajetória artística em uma fase abstrata, explorando o suporte da gravura de maneira não convencional.

A individual é realizada pela Agência Dellas e produzida pela Atelier Produtora, e conta com a curadoria de Ana Hortides. A mostra foi contemplada pelo Edital de Cultura Sesc RJ Pulsar 2024. Continua na página seguinte

 

A subversão da técnica sempre presente

Já nos anos 1960, a concepção de Anna Bella sobre a arte abstrata começa a se radicalizar, assumindo recortes e relevos na sua composição | Foto: Divulgação

"Anna Bella Geiger - Entre o Relevo e o Recorte" destaca especificamente a fase inicial da artista como gravurista, revelando a sua ousadia ao desafiar as convenções do meio. Um aspecto crucial da exposição é a exploração da técnica de recorte da chapa de metal da gravura, uma prática não usual na época, que sinalizava a direção de suas futuras experimentações.

Com a subversão da técnica sempre presente, Anna Bella se utilizava da chapa de metal da gravura como suporte para experimentação, cortando-a, o que era inimaginável para a produção gráfica do período. A ousadia da sua poética pode ser percebida ao vislumbrarmos as suas obras com o passar do tempo. As formas gráficas começam a se soltar do retângulo da chapa de metal, ganhando novos contornos e promovendo novas discussões dentro do campo da própria arte.

"Anna Bella Geiger é uma artista plástica e professora pioneira no campo da gravura e da videoarte brasileiras. A mostra é uma homenagem ao seu importante legado, revelando os seus primeiros trabalhos e experimentações em gravura, enquanto ainda uma jovem artista, parte pouco conhecida e explorada de sua obra. Na mostra, o público poderá ver trabalhos em desenho e gravuras que marcaram o início da sua carreira, muitos deles nunca antes expostos", comenta Ana Hortides, curadora da exposição.

A partir da mostra, o público terá a oportunidade de conhecer e se aproximar não apenas da produção gráfica da artista, mas também do contexto histórico e das influências que moldaram sua trajetória singular. Desde seus estudos iniciais no ateliê de Fayga Ostrower até sua experimentação pioneira de técnicas de gravura que desafiaram as convenções da época.

"Lembro-me bem de quando cheguei a uma compreensão mais plena e profunda dos princípios abstracionistas na minha própria obra em meados do ano de 1952. Estávamos num momento cultural em que alguns e algumas de nós, artistas, vínhamos buscando, individualmente, radicalizar essas transformações, fosse aqui no Brasil, como internacionalmente", recorda Ana Bella.

"Naquele turbilhão de ideias, comecei a encontrar soluções próprias, individuais, em meus desenhos, guaches e gravuras abstratas. Nessa época, alguns de nossos pioneiros na área gráfica, como Osvaldo Goeldi, Lasar Segall, Lívio Abramo, inclusive a própria Fayga Ostrower até então, eram artistas figurativos, não viam o mundo somente do ponto de vista estético, mas sim sob os seus aspectos sociais e humanos. Havia um conflito, um verdadeiro tabu, na questão da eliminação da figura humana na Arte. As desavenças eram profundas, e, no Brasil, ainda tínhamos uma questão extra-artística, como a do regionalismo ou do realismo", contextualiza a artista.

A abertura da exposição contará com uma visita guiada e conduzida pela própria artista e curadora. No dia 3 de setembro, será lançado o catálogo da individual, seguido por uma palestra que contará também com a participação de Anna Bella Geiger.

SERVIÇO

ANNA BELLA GEIGER - ENTRE O RELEVO E O RECORTE

Galeria do Sesc Copacabana (Rua Domingos Ferreira, 160)

De 14/6 a 8/9, de terça-feira a domingo (10h às 19h)

Entrada franca