A artista plástica Mery Horta abre nesta quarta-feira (17), "Terrosa", sua segunda individual, no Centro Cultural Correios RJ. Com curadoria de Carolina Rodrigues, a mostra apresenta ao público mais de 10 trabalhos inéditos entre esculturas e performance que partem de questões relacionadas à ecologia e ao corpo negro feminino, utilizando materiais orgânicos em fase de pré e pós vida.
Em "Terrosa", Mery Horta mergulha em cores, cheiros e texturas e cria um universo permeado por seres que surgem da terra. Através de deusas pagãs, organismos que pendem e se esgueiram pelo espaço, a artista fabula encantarias e elabora uma visualidade toda inspirada em questões ligadas à ecologia e aos ciclos do corpo feminino.
"Vejo as obras desta minha segunda individual como gestos que ganham força vital, como uma fabulação de vidas que existem antes do tempo ser tempo, que sempre estiveram aqui e estarão depois de nós. O nome da exposição, assim como suas obras, ou seres, surgem da terra, como se estivessem ali dormentes e são despertados para que possamos contemplar, mas também nos nutrirmos de suas existências. Gosto de pensar que a galeria se transforma em um microcosmos e somos convidados a compartilhar essa existência com esses encantados que ali estão, numa imersão sensorial com gosto e cheiro de terra, cor de entranhas. 'Terrosa' significa, para mim, vida", explica a artista, que teve a ideia da exposição em 2023, enquanto pesquisava para a criação de "Cio da terra", seu solo de dança contemporânea.
"Senti a necessidade de expandir a performance para outros materiais com os quais eu já vinha trabalhando há alguns anos. A pesquisa em dança já havia sido influenciada pelas artes visuais e, agora, devolvo essa influência. Esse desejo se materializa por meio de esculturas em obras que compõem uma grande instalação. A escultura, assim como os materiais utilizados, como é o caso do urucum, vêm de um desenvolvimento da minha pesquisa em artes visuais desde 2019, quando me deparo em meio ao meu trabalho de performance com o sangue menstrual e, portanto, com a cor vermelha. A partir daí o vermelho se expande para outras simbologias relacionadas principalmente ao corpo feminino e à ancestralidade afro-brasileira e indígena", sintetiza.
Dentre as criações da exposição Mery Horta destaca a escultura Sapira, um grande desafio em sua criação. "Essa obra toda na base de madeira foi feita, assim como as outras da exposição, com madeira rejeitada pela natureza, ou seja, minha equipe realizou uma longa busca em diversas cidades do Rio de Janeiro até encontrar um tronco rejeitado que fosse semelhante ao formato base que eu havia desenvolvido no croqui. Quando encontramos esse tronco, que era de abacateiro, recolhemos galhos rejeitados de cajueiro para a sustentação da base e, só então, começamos a trabalhar na construção de Sapira", relembra.
Em paralelo ao trabalho de criação, o caminho desenvolvido por Carolina Rodrigues na curadoria foi diferente do que é comumente feito, quando um curador reúne uma série de obras de um artista e desenvolve uma narrativa. "Essa exposição demandou um trabalho mais atento e profundo. Quando iniciei o acompanhamento curatorial, existia um conceito e um texto, depois foram surgindo os croquis, a escolha dos materiais e o processo de desenvolvimento das obras. Todo esse passo a passo foi feito com visitas ao ateliê da Mery e diálogo constante", relata a curadora.
SERVIÇO
TERROSA
Centro Cultural dos Correios RJ (Rua Visconde de Itaboraí, 20)
De 17/7 a 31/8, de terça a sábado (12h às 19h)
Entrada franca