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Investigação e questionamento

A produção da artista visual paulistana Rosana Paulino dialoga com as peças fixas do acervo da Casa Museu Eva Klabin, sugerindo uma revisão histórica aos olhos dos visitantes | Foto: Divulgação

Com uma trajetória única e influente, a artista visual pauistana Rosana Paulino traz à tona discussões sobre memória, natureza, identidade e história afro-brasileira na exposição "Novas Raízes". Os trabalhos expostos são resultado de uma longa pesquisa acerca da arquitetura e do acervo da Casa Museu Eva Klabin, na Lagoa, propondo a separação conceitual entre os dois andares.

O trabalho de Rosana é centrado em torno de questões sociais, étnicas e de gênero, concentrando-se em particular nas mulheres negras da sociedade brasileira e nos vários tipos de violência sofridos por esta população devido ao racismo e ao legado duradouro da escravatura. A artista explora o impacto da memória nas construções psicossociais, introduzindo diferentes referências que intersectam a história pessoal da artista com a história fenomenológica do Brasil, tal como foi construída no passado e ainda persiste até hoje.

A individual da artista é a primeira no Rio após a sua exposição no Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires, o Malba. Com a mostra, Rosana se tornou a primeira mulher negra a ter uma individual exposta no museu argentino, que apresentou um olhar retrospectivo da trajetória da artista.

"Esta é uma oportunidade única de ver a obra de Rosana Paulino em diálogo direto com um acervo clássico, propondo assim uma revisão histórica e epistemológica aos olhos do visitante", diz o curador Lucas Albuquerque, sobre a combinação do acervo fixo da casa com as obras da artista. "Rosana pretende que esta exposição tenha um caráter educativo bem acentuado, questionando sobre como podemos repensar a produção contemporânea em diálogo com novas leituras de mundo, este bem diferente daquele deixado por Eva Klabin há mais de trinta anos", complementa.

Os cômodos do térreo serão dedicados a produções que expõem a relação entre a arquitetura e botânica, com desenhos, colagens e instalações. As obras da série "Espada de Iansã", integrante da 59ª Bienal de Veneza, se juntam a outros trabalhos que visam romper a separação entre dentro e fora, com plantas tomando as diferentes salas. Rosana chama a atenção para a incisiva separação entre o ambiente doméstico e o jardim, fruto de uma corrente de pensamento europeu que aponta para a necessidade de domar a natureza.

Os cômodos do segundo andar tangenciam uma discussão sobre a vida privada de mulheres negras ao longo da história. Obras como "Paraíso tropical", "Ama de Leite" e "Das Avós" resgatam fotografias e símbolos da história afro-brasileira, tecendo uma reflexão sobre a subjugação dos corpos às políticas de apagamento resultantes do modelo escravocrata vivido pelo Brasil Colônia. Fazendo uso de tecidos em voil, fitas, lentes, recortes e outros objetos, Paulino propõe a preparação de um ambiente de descanso para todas as mulheres negras vítimas da história brasileira, em especial Mônica, a ama de leite fotografada por Augusto Gomes Leal em 1860, uma das poucas que tiveram o seu nome conservado ao longo da história.

SERVIÇO

NOSSAS RAÍZES

Casa Museu Eva Klabin (Av. Epitácio Pessoa, 2480 - Lagoa)

Até 12/1, de quarta a domingo (14h às 18h) | Entrada franca

Entrada gratuita