Por: Affonso Nunes

Mocidade Independente: O futuro chegou. E agora?

A carnavalesca Márcia Lage, morta em janeiro, será lembrada num dos carros Mocidade | Foto: Alexandre Macieira/Riotur

A Mocidade Independente de Padre Miguel está de luto pela morte recente de sua carnavalesca Márcia Lage em janeiro. Mas a comunidade ergue a cabeça para defender na avenida o enredo "Voltando para o Futuro - Não Há Limites pra Sonhar", concebido por ela e seu marido Renato Lage. A agremiação verde e branca da Zona Oeste é uma das poucas a apresentar um tema sem ligação direta com a negritude ou a africanidade durante os três dias de desfile.

"Nosso enredo para o Carnaval de 2025 é uma grande reflexão sobre o futuro tão sonhado. Sempre desejamos avanços tecnológicos, e esse futuro chegou. Agora, o que podemos fazer pelo destino da humanidade?", questiona o diretor de carnaval, Mauro Amorim. "Nossas relações interpessoais vão bem? Nossa humanidade está preservada? Não se trata de contestação, mas de uma grande reflexão sobre o mundo que vivemos e o que queremos construir para o futuro", reforça.

O enredo foi desenvolvido pelo casal de carnavalescos Renato e Márcia Lage, ambos com trajetória marcante no samba, incluindo passagens por escolas como Acadêmicos do Salgueiro e Império Serrano. "Desde o início, a Mocidade abraçou essa proposta, reconhecendo a relevância desse debate para os dias atuais", relembra Amorim.

No dia 19 de janeiro, Márcia faleceu aos 64 anos, vítima de leucemia. A perda foi profundamente sentida na escola. "Ela deixou um legado inestimável para a nossa agremiação, e a melhor forma de homenageá-la é seguir trabalhando, unindo esforços para entregar um desfile à sua altura, à altura de Renato e de cada torcedor da Mocidade Independente", afirma Amorim.

O intérprete Zé Paulo Sierra reforça o espírito de superação: "O Carnaval ensina que podemos ir além, mesmo nos momentos mais difíceis. Agora, é encontrar forças, apoiar Renato e fazer esse desfile por Márcia e pela comunidade".

ENREDO: "Voltando para o Futuro - Não Há Limites pra Sonhar"

A luz que nos chega da estrela primeira,
Nascida do pó no Cruzeiro do Sul
Do plasma divino das mãos carpinteiras
Ressurge candeia no breu nesse azul
Será que o limbo da imaginação
Perverte a inteligência
O homem com sua ambição
Desconhece a razão desatina a Ciência
Será que há de ter carnaval, sem minha cadência?
Com alas em tom digital
No fim da existência
Me diz afinal quem há de arcar com as consequências?

Se a mocidade sonhar
No infinito escrever
Versos a luz do luar, deixa!
Quando o futuro voltar
A juventude vai crer
Que toda estrela pode renascer

O verde adoecido da esperança
Ofega sobre o leito da cobiça
Quem vive pelo preço da cobrança
Derrama sua lágrima postiça
Fogo matando a floresta
Bicho morrendo no cio
Febre no pouco que resta
Secam as águas do rio

E a vida vai vivendo por um fio


Naveguei...
No afã de me encontrar eu me emocionei
Lembrei da corda bamba que atravessei
São tantas as viradas desta vida
A mão que faz a bomba se arrepende
Faz o samba e aprende
A se entregar de corpo e alma na avenida

O céu vai clarear
Iluminar a zona oeste da cidade
E Deus vai desfilar
Pra ver o mago recriar a Mocidade

Autores: Paulo Cesar Feital, Cláudio Russo, Alex Saraiça, Denilson Rozario, Carlinhos da Chácara, Marcelo Casanossa, Rogerinho, Nito de Souza, Dr Castilho e Léo Peres