Por: Affonso Nunes

Refletindo a construção do feminino

A exposição revela o desenvolvimento da pesquisa de Natali Tubenchlak em torno de sua relação com as plantas | Foto: Divulgação

O espaço independente de arte Abapirá, instalado em um casarão tombado no centro histórico do Rio, recebe a exposição "Desvairadas e Outros Cultivos", de Natali Tubenchlak. Com curadoria de Ana Carla Soler, a mostra revisita mais de 25 anos de trajetória da artista niteroiense, cuja obra expande a reflexão sobre o feminino e seus desdobramentos no cotidiano.

Entre os destaques, três trabalhos de grande formato criados especialmente para o projeto Janelas da Abapirá, com apoio do programa Reviver Centro, da Prefeitura do Rio. A exposição propõe um percurso pela relação sensível e contínua de Natali com o mundo vegetal, reunindo três séries recentes e inéditas — "Mata Atlântica Dramática", "Viveiros" e "Desvairadas" — além de obras anteriores que se articulam com a mesma temática.

Segundo a curadora, é recorrente na obra da artista o aparecimento de figuras híbridas, meio humanas, meio vegetais — corpos cujas cabeças se transformam em brotos. Também é comum o uso de silhuetas extraídas de seus contextos originais, desprovidas de narrativas fixas. Na série mais recente, "Desvairadas", Natali parte de posturas da luta livre para construir corpos feitos de folhas e fragmentos vegetais. São figuras que evocam a força e a delicadeza de entidades femininas em sintonia com a natureza.

Com mais de duas décadas de produção, Natali iniciou sua trajetória na pintura e se destacou na gravura, campo em que desenvolve um trabalho de refinamento técnico. É uma das artistas em atividade no ateliê de gravura do Museu do Ingá, referência nacional no segmento. O projeto Janelas da Abapirá busca integrar arte e cidade, transformando as janelas do casarão em vitrines poéticas voltadas para a Rua do Mercado. A proposta inclui exposições individuais e coletivas, performances e intervenções, sempre com curadoria voltada a provocar o olhar e ampliar a experiência urbana.

Natali é artista visual com formação em design, gravura, cerâmica, escultura e marcenaria. Estudou na Escola de Artes e Ofícios de Barcelona, na EAV Parque Lage e na Oficina de Gravura do Museu do Ingá. Fundadora do espaço independente Barracão Maravilha (2008-2014), tem uma produção que investiga ética, sensualidade e violência, com atenção especial ao cruzamento entre técnica e narrativa. Seu trabalho se orienta atualmente pela cologravura, técnica que alia inovação e sustentabilidade, inspirada nas obras de António Berni e Belkis Ayón. Além de artista, é professora e pesquisadora dos potenciais éticos e criativos da gravura contemporânea.

SERVIÇO

DESVAIRADAS E OUTROS CULTIVOS

Espaço Abapirá (Rua do Mercado, 13, Centro) | De 12/4 a 5/6, de terça a sábado (14h às 18h) | entrada franca