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A rua (e a praia) como residência artística

O Que se Passa | Foto: Rogério Reis

Vem chegando o verão e todas as atenções do carioca voltam-se para saber se amanhã vai dar praia. Cronista de imagens da cidade, o renomado fotógrafo carioca, Rogério Reis acaba de abrir uma exposição de trabalhos inéditos no Paço Imperial. Com entrada gratuita, "O Que Se Passa" reúne mais de 100 obras que revelam as interações de Rogério com a cidade ou, como ele gosta de dizer, sua "residência artística", ou seja, a rua e, no contexto desta exposição, as areias das praias cariocas.

"Tenho desinteresse por aspectos contemplativos da paisagem e busco ressignificar o que aparenta ser banal e pouco explorado pela vasta crônica visual das praias da Zona Sul. Objetos funcionais, equipamentos esportivos, descartes, vestígios das ressacas e gambiarras que facilitam a vida dos banhistas e profissionais das areias são os protagonistas", explica o fotógrafo.

A exposição com curadoria de Paula Terra-Neale revela o que muitas vezes escapa à nossa atenção, enfatizando a presença de corpos, mesmo quando ausentes. As obras documentam os vestígios da cultura visual e dos rituais das comunidades nômades à beira da orla carioca. Traz imagens que se concentram nas comunidades de trabalhadores que sobrevivem na região costeira, mas também quem veja a praia como um espaço exclusivamente de lazer, e até mesmo seres não humanos, como os cachorros que, através das lentes de Reis, são capturados no ar, em pleno salto, como se ele concedesse asas àqueles que vivem mais próximos do solo.

Rogério é fotógrafo independente há quatro décadas. Depois de passar pelo Jornal do Brasil, Globo e Veja, se juntou à agência F4 onde aprendeu a pesquisar e desenvolver seus próprios temas durante os anos 1980. "Ele não aderiu à arte estritamente engajada em voga quando começou a trabalhar nos anos 1970, - diríamos que sua linguagem estaria talvez mais próxima à poesia marginal e ao movimento de contracultura que surgia com o Cinema Novo, do que a arte de denúncia; ou seja, tem uma pegada existencialista e crítica, sem ser politicamente dogmática, com foco na liberdade de expressão, e atravessada por um fino senso de humor, de quem não se quer sério", afirma a curadora da exposição.

SERVIÇO

O QUE SE PASSA

Paço Imperial (Praça XV de Novembro, 48 - Centro)

Até 24/3, de terça a domingo e feriados (12h às 18h) | Grátis

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