Por:

Interpretação feminina acertada

Por João Victor Ferreira

Depois de uma queda em sua carreira musical e no cinema, a atriz e cantora Judy Garland (Renée Zellweger) precisa ir para Londres no fim dos anos 1960, na esperança de reconquistar a sua fama e conseguir o que precisa para viver a vida que tanto sonha, ao lado dos seus filhos.

O filme segue uma construção linear e bem previsível em relação aos fatos que ocorreram com a protagonista. De fato, o grande charme é muito mais a interpretação e a qualidade da representação de uma das atrizes mais importantes dos anos 1940 e 1950, do que a história por si só.

A direção em confluência com a edição torna os momentos de flashback fluidos, o que contribui de certo modo para o ritmo do filme que é bom, mas, em alguns momentos, esquizofrênico. Sendo um segmento importante do seu arco e, por consequência do filme, o passado de Judy acaba levando muito tempo de tela. São algumas pontas soltas e outras situações que não levam a lugar nenhum que atrapalham um pouco esse rumo que é desenvolvido.

O roteiro sabe muito bem que o seu ponto mais forte é a sua protagonista, criando situações e diálogos interessantes que nos revelam pouco a pouco as nuances da sua personalidade.
O mesmo não pode ser dito dos personagens coadjuvantes que beiram a irrelevância na maioria das situações. Algo que não é necessariamente um grande problema, já que um coadjuvante nos serve justamente para a construção do arco do protagonista.

O que incomoda aqui são situações criadas que não levam a lugar nenhum e principalmente a falta de participação e apego emocional de personalidades importantes na vida de Judy, como é o caso dos filhos, que são esquecidos depois do primeiro ato.

Chegamos então na interpretação de Renée Zellweger – favorita na categoria de melhor atriz na edição do Oscar 2020. Renée consegue ser operacional quando necessário, conseguindo passar facilmente os trejeitos e a fisicalidade de seu objeto de estudo. Ainda assim, a atriz passa muito bem a melancolia por trás de uma atriz de um peso absurdo, com o medo de cair no esquecimento. Envelhecer é um tema muito presente aqui na história de Judy e, sendo uma mulher artista nos anos 1960, faz esse peso ser cada vez mais opressivo.

Judy é um filme que se vale pela interpretação feminina acertada e muito bem dirigida. É um estudo de personagem operante, mas que ganha o seu brilho de fato quando cai nas mãos de sua intérprete.

O filme pode não ser nada de mais, mas ele ganha charme e algo a dizer quando Renée aparece pela primeira vez na tela.
Nota: 7,5.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.