Por: Affonso Nunes

Com o axé de Laíla, Beija-Flor conquista o carnaval

Beija-Flor homenageou Laíla, um dos grandes diretores de carnaval da escola, que morreu em 2021 | Foto: Alex Ferro/ Riotur

 

A Beija-Flor de Nilópolis é a campeã do Carnaval 2025 no Rio de Janeiro. A azul e branco conquistou seu 15º título com uma homenagem a Laíla (1943-2021), lendário diretor de Carnaval e responsável pela maioria dos campeonatos da escola.

Em seu último ano como intérprete, Neguinho da Beija-Flor emocionou o público já na concentração — quando antecipou que voltaria no Sábado das Campeãs. Profetizou: encerrará o cortejo do próximo dia 8 como o grande vencedor.

Foi uma chuva de 10.0 para Laíla. A escola “gabaritou” sete dos nove quesitos, recebendo um 9.9 em Alegorias e Adereços e outro 9.9 em Harmonia — notas descartadas no cômputo final. Com isso, a Beija-Flor alcançou os 270 pontos, o máximo possível.

Mas a disputa foi acirrada. Beija-Flor e Imperatriz Leopoldinense dividiram o primeiro lugar por seis quesitos. No sétimo, Fantasias, a escola de Ramos perdeu um décimo nas notas válidas — e não conseguiu mais voltar à disputa. O vice-campeonato ficou com a Acadêmicos do Grande Rio, por apenas um décimo de diferença: 269.9.

Na outra ponta da tabela, a Unidos de Padre Miguel terminou em último, com 266.8 pontos, e retornará à Série Ouro.

A Azul e Branca avançou mais um degrau entre os maiores campeões. A Portela tem 22 vitórias, a Mangueira, 20, e a Beija-Flor, agora, 15. O último título havia sido em 2018 — também com a marca de Laíla.

Neguinho da Beija-Flor se emocionou com a vitória da escola: “Encerrei com chave de ouro.”

A campeã foi a segunda a entrar na Avenida na Segunda-Feira de Carnaval (3), apresentando o enredo “Laíla de todos os santos, Laíla de todos os sambas”, desenvolvido pelo carnavalesco João Vitor Araújo.

Técnica e vibrante, a escola reviveu a era do “rolo compressor nilopolitano”, comandada por Laíla, em um desfile coeso e impactante. O conjunto visual manteve a identidade tradicional da Beija-Flor, enquanto o samba-enredo, interpretado por Neguinho em sua despedida oficial, teve forte conexão com o público. Bem estruturado, o enredo exaltou a genialidade e o legado do homenageado.

A comissão de frente representou Laíla em um terreiro sagrado, unindo elementos espirituais e cênicos de grande efeito. O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Claudinho e Selminha Sorriso, brilhou com figurinos inspirados na espiritualidade e no destino.

As alegorias impressionaram pelo acabamento impecável e pelo uso de iluminação para reforçar a dramaticidade. Destacaram-se a escultura de Laíla, o carro de Xangô e o encerramento emocionante com um Cristo negro, em referência ao icônico desfile de 1989. A única falha ocorreu na última alegoria, cuja faixa “Do Orun, olhai por nós” não pôde ser lida completamente.

O conjunto de fantasias resgatou o luxo característico da escola sem comprometer a evolução dos componentes. A bateria Soberana inovou com bossas e paradões, sustentando o canto potente da comunidade, que atravessou a Avenida com garra e entrega.