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50 metros de Copacabana

Sumol era um nome unissex. Nunca se chegou à conclusão de que fosse o Sumol ou a Sumol, mas era assim que a lanchonete se chamava. No letreiro tinha uma laranja cortada bem grande e vistosa. Os lanches eram ótimos, o hambúrguer era da casa, bem temperado. Funcionava na esquina de Barata Ribeiro com Figueiredo Magalhães, bem no fígado de Copacabana, sem relação com bebidas alcoólicas - era uma casa de sucos, quem quisesse um drinque só precisava ir ao botequim bem ao lado, na Barata Ribeiro.

Ah, o Sumol era, junto com o famoso Cervantes, o refúgio oficial de todos os torcedores dos jogos noturnos no Maracanã: cheios de fome, encontravam os dois estabelecimentos abertos até a madrugada.

Bem em frente, ficava a Varese Esportes, loja de artigos finos, tênis caros, camisas com escudos maravilhosos e, claro, botões de galalite. Os adolescentes ficavam babando na vitrine com os itens Le Coq Sportif, fornecedor oficial do Fluminense, que ganhava tudo. Outros olhavam as maravilhas esportivas do jeito que o cachorro espia frango assado na padaria.

Como a grana era curta, os garotos tinham uma solução imediata: ficar na calçada Sumol, andar dez metros e cair na Kayat Sports, que vendia números e escudinhos para as camisas, além do número de camisa que grudava com a simples passagem de roupa. Uma camiseta Hering resolvia tudo: rapidamente você tinha uma camisa barata do Fluzão, América ou Botafogo.

Bem em frente à entrada das Lojas Americanas ficava a Sorveteria Akay. Tinha um milk shake ótimo e provavelmente o melhor misto quente de Copacabana: tostadinho, crocante, queijo derretido, presunto impecável. Do outro lado da rua, a lanchonete das LA vendia refresco em copo de cone de papel: o de côco era o melhor de todos. Cachorro-quente também. Epa, será que alguém ainda se lembra que as Americanas vendiam um excelente hot-dog, quando mal havia carrocinhas na rua fazendo isso?

Pertinho, pertinho, ficava a galeria do Cine Condor Copacabana, gigantesco e confortável. No prédio, morava minha amiga Kátia França, tremenda pantera do bairro nos anos 1980. Para os mais jovens, pantera era símbolo de mulher bonita, femme fatale, bem ao estilo do bairro. Não é à toa que, anos depois, o poeta Fausto Fawcett se tornou um sucesso nacional com "Kátia Flávia", a Godiva do Irajá que fazia o diabo na terra copacabanensis. Ainda sobre o Cine Condor, foi lá que meu amigo Fred estreou em filmes proibidos para menores de 18 anos, isso aos 14: tirou cópia do título de eleitor do padrasto, colou a própria foto 3 x 4 em cima e foi para a batalha. Nenhum problema: ele era grandão, já tinha barba, ninguém criava caso na roleta.

Sumol, Akay, Kayat, Varese e a lanchonete da porta das Americanas estão definitivamente mortos. Uma pena. O Fredão também. Felizmente a Kátia está linda e cheia de graça. Aquele pedacinho de Copacabana nunca mais foi o mesmo.

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