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Remontando as origens da fotografia

Imagens produzidas sem câmera e sem negativo, através do contato de objetos com a superfície do papel fotográfico. Essa é a técnica utilizada pelo fotógrafo Vicente de Mello na exposição "Monolux" em cartaz na Galeria de Arte do Sesc Niterói, com entrada franca.

Com curadoria do poeta Eucanaã Ferraz, a mostra apresenta 32 fotogramas recentes e inéditos de Mello num projeto que reúne imagens únicas, produzidas nos últimos seis anos, em um processo que remonta a origem da fotografia e vai na contramão da grande reprodutibilidade de imagens digitais dos dias atuais.

Apesar de utilizar um procedimento histórico, no qual objetos são colocados sobre papel sensibilizado quimicamente, que, ao serem expostos à luz, revelam a silhueta branca do objeto em um fundo escuro, Mello dá um caráter pessoal a essa técnica. "Em vez de arranjos estritamente formais ou de avizinhamentos aleatórios, cria relâmpagos narrativos", explica o curador Eucanaã Ferraz.

Objetos simples do cotidiano, como madeiras, álbuns, câmeras, slides, porta-retratos, tampinhas de garrafa e até nós de aço da operação cardíaca de seu pai, são utilizados para criar as formas gráficas das imagens, em obras que fazem não só uma homenagem à fotografia, mas também à história da arte.

A exposição chega ampliada ao Sesc Niterói, com obras inéditas, depois de ter sido apresentada no MAM-Rio, em 2018. De terça a sábado, das 10h às 16h, são realizadas visitas mediadas.

Diante da enorme quantidade de imagens digitais da atualidade, Vicente de Mello buscou mostrar nesta exposição a natureza primeira da fotografia: os fotogramas, "uma antítese do impalpável e imensurável universo de pixels". O fotograma surgiu na primeira metade do século XIX, com o inglês William Talbot, pioneiro da fotografia, sendo reapropriada pelo americano Man Ray no século XX, que deu a ela o nome de Rayograph.

Ao contrário das imagens digitais, que podem ser manipuladas, com os fotogramas não há como ter total controle sobre a impressão. "Agradava-me a ideia de pensar que tanto a luz quanto os objetos exercem uma ação tátil de clara composição ambígua sobre o papel, resultando em um fato fotográfico de força enigmática", explica Vicente.

Sobre retomar uma técnica do início da fotografia, em meio às novas tecnologias, o artista afirma: "No meio da constatação desta espetacular hecatombe de imagens, senti que, eu mesmo já estava há anos convivendo com um grande manancial de imagens editadas, conhecidas, exibidas, adquiridas, publicadas, além das arquivadas que nunca chegaram a outros olhos", conta. Ele ressalta que não considera ter esgotado sua percepção, mas que precisava "retornar a um pensamento em que pudesse construir, dominar, e que fosse único". "Um novo estatuto da fotografia, sem freio", afirma.

SERVIÇO

MONOLUX

Galeria de Arte do Sesc

Niterói (Rua Padre Anchieta, 56 - São Domingos)

Até 6/8, de terça a sábado (das 10h às 16h)

Entrada franca

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