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'Eu filmo barato ideias que ninguém faria'

Por Rodrigo Fonseca

Especial para o Correio da Manhã

Ao anunciar que vai filmar um novo longa-metragem do herói de HQs Spawn, satisfazendo um desejo dos fãs do Soldado do Inferno, criado há 30 anos, o californiano Jason Blum arrebanhou o mundo nerd para seu séquito de fãs. Séquito que celebrou quando o nome desse produtor de 53 anos foi anunciado entre os homenageados do 75º Festival de Locarno.

Fenômenos populares como a franquia "Atividade Paranormal" (iniciada em 2007) e a nova versão de "Halloween" (2018), somadas a produções consagradas pela sua luta antirracista (e igualmente milionárias na venda de ingressos), como "Infiltrado na Klan" (2018) e "Corra!" (2017), são a cereja de um dos currículos mais invejados por Hollywood, na atualidade. Sua produtora, a Blumhouse, com foco nas forças do Além, é uma máquina de projetar sucessos comerciais.

Sob esse selo, Blum tem lotado salas de exibição desde julho com "O Telefone Preto", um thriller sobrenatural de custo estimado em U$S 18 milhões (uma ninharia para o audiovisual dos EUA) cuja receita beira US$ 150 milhões. O segredo dele - que vai iniciar agora uma adaptação nova de "O Exorcista", de William Peter Blatty - é baixar custos, para elevar as taxas de invenção narrativa, sem que as ousadias possam ocasionar rombos comerciais. Com essa equação, ele garante espaço em circuito pra tudo o que desenvolve, sem pular "janelas", e ignorar as telonas, indo diretamente para a TV ou para o streaming. É por isso que ele ganha a chancela de Locarno, que concedeu a ele o troféu Raimondo Rezzonico pelo coletivo de seus longas. A maratona cinéfila na Suíça vem, desde 2021 - com chegada do crítico Giona A. Nazzaro em sua curadoria - rediscutindo o poder dos "filmes de gênero". E o horror é parte disso, como Jason explica a seguir, num papo com o Correio da Manhã.

O que pode despertar o medo nas plateias nestes tempos de tanta polarização, com a guerra da Ucrânia? A ideia do chamado "Novo Terror", que aposta mais no clima de mistério do que em sustos, como visto em "Titane" e "Swallow", pode ser uma saída?

Jason Blum: Eu não gosto muito do que esse termo representa, pois eu costumo fazer filmes de horror que tenham um componente de diversão, de humor, de irônica, como se vê em "Corra!" e em "Nós", do Jordan Peele, que eu adorei produzir, ou em "O Homem Invisível". Eu gosto que os filmes tenham camadas, e uma delas é a da diversão. Mas eles assustam.

Vamos ver isso em "O Exorcista", que parece uma retomada do sucesso de 1973?

Já começamos a produção e fiquei feliz de ter David Gordon Green com a gente, depois de seu trabalho na releitura de "Halloween". Aliás, a terceira parte, "Halloween Ends", já vem por aí. David é um realizador com perfil autoral, que fez filmes muito particulares antes de enveredar por uma franquia da qual era fã, trazendo para ela uma vivência diferente que um especialista e gêneros faria. E é o que esperamos. Sobre essa questão do que assusta hoje, eu encontrei, em festivais, uma pequena produção, que adquirimos, por total confiança em sua potência narrativa: "Soft & Quiet". Acabamos de adquiri-lo no South By Southwest Festival e ele tem uma mirada para o terror muito particular, nova.

Como é a busca de investimentos na maneira coo você produz?

Hollywood caiu numa arapuca perigosa quando passou a acreditar que ao fazer um sucesso, deve encarecer o orçamento de sua continuação ou de seu projeto seguinte a fim de dar a ele mais qualidade. Eu faço filmes que estão abaixo da linha de investimento para que eu possa ousar sem margem de risco. Dessa forma eu posso garantir que todos os meus filmes possam encontrar espaço em sala de exibição, sem pular etapas. Essa é a minha filosofia. Estou ciente de que existem projetos, como "Spawn", que demandam maior gasto. Mas eu não vou chegar a US$ 100 milhões para realizá-los. Vou encontrar parceiros que trabalhem da maneira como Todd Phillips fez "Se Beber, Não Case" ou "Coringa", que não são meus, mas eu admiro. Ele filmou por US$ 50 milhões, chegando no máximo a US$ 70 milhões. Fez por esse valor uma série de projetos que, em outras mãos, excederiam muito esse valor pelas estruturas atuais do cinema. Eu filmo barato ideias que ninguém faria.

Mas, ao mesmo tempo, sua carteira abre espaço para documentários, alguns de tom social, como o recente "Pai Nosso?". O que é esse braço paralelo?

É a minha forma de usar o cinema para tentar fazer do mundo um lugar melhor.

Foi esse o caso de 'Infiltrado na Klan'?

Não, porque Spike Lee não precisa da ajuda de ninguém na indústria. Ele é um gigante.

Existe hoje um star system no horror, ou seja, estrelas que simbolizam o gênero?

Jamie Lee Curtis, com certeza, pelo que criou de legado em 'Halloween".

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