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Carga explosiva do recomeço

Por Rodrigo Fonseca

Especial para o Correio da Manhã

Embora tenha em seu currículo cinematográfico, iniciado em 1979, parcerias com diretores autorais como Claude Chabrol, Alain Cavalier e Betrand Tavernier, o ator François Berléand se surpreende ao saber que, no Brasil, é mais lembrado como parceiro de brucutu - no caso, o inglês Jason Statham - na franquia "Carga Explosiva" (2002-2008). Mais surpreso ainda ficou em saber que é lembrado em sua versão dublada. Suas falas, por aqui, ganham a voz de Carlos Campanile, um mito da dublagem paulistana, o que deixa o ator francês de 70 anos lisonjeado, e intrigado, uma vez que seu mais recente trabalho, alvo de elogios no 75º Festival de Locarno, na Suíça, chamado "Last Dance", é mais expressão corporal do que diálogo.

"Vou até procurar ouvir como é feita a minha dublagem", disse Berléand ao Correio da Manhã. "Sou um ator focado na diversidade, apostando sempre em papéis diferentes, a partir dos quais eu possa me reinventar. Mas sempre que eu pego um roteiro, como 'Last Dance', tenho que observar aquele universo e me apoderar do que é para ser dito, levando as palavras para mim, ruminando-as. E isso é fundamental num filme como esse, que afirma a vida".

Diretora de "Last Dance", a suíça Delphine Lehericey ofereceu a Berléand um personagem que é cinco anos mais velho do que ele: o aposentado Germain. Desde que sua mulher morreu, ele não teve paz. Seus parentes, preocupados com sua saúde física e metal, não o deixam sossegar um minuto que seja. A viuvez chega para tirá-lo da inércia, com muitos incômodos. Mas há um aspecto inusitado em seu luto: Germain decide realizar um sonho de sua esposa, apaixonada por dança contemporânea, e resolve aprender a bailar. Mas não se trata apenas de dominar o "dois pra cá, dois pra lá", e, sim, de fazer uma apresentação num palco.

"A dança põe uma vida paralisada em movimento e nos faz ver que a aposentadoria pode ir além de passar os dias a fazer palavras cruzadas", diz Berléand, que levou Locarno às lágrimas com seu desempenho. "Eu não peguei covid-19, mas sei que as pessoas sofreram na pandemia com tudo o que se passou, o que torna um filme celebrativo como esse uma atração forte. É uma discussão sobre seguir adiante e desafiar os limites do cansaço, da prostração".

Vai ter maratona cinéfila em Locarno até 13 de agosto, quando serão anunciados os filmes premiados. Na quarta, acontece a projeção do longa brasileiro "Regra 34", de Julia Murat.

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