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'Vamos buscando forças para reconstruir o que está sendo tomado'

Por Rodrigo Fonseca

Especial para o Correio da Manhã

Começa nesta sexta (12), na Serra Gaúcha, a edição de nº 50 de Gramado, o mais popular dos festivais do país, que trará em sua competição de curtas-metragens o aclamado "Fantasma Neon", musical que deu ao Brasil o prêmio principal da mostra Pardi di Domani de Locarno, em 2021.

Por trás de uma alegórica narrativa de canto, dança e pedaladas, sobre as agruras de um entregador de i-Food (papel de Dennis Pinheiro), está o diretor Leonardo Martinelli. No dia 17, seu ensaio cantado sobre exclusões sociais será exibido em Gramado, na cola do Kikito.

Na entrevista a seguir, Martinelli explica ao Correio da Manhã o que faz uma vez mais na cidade suíça que lhe deu fama internacional, e para onde voltou este mês de olho em seu projeto de estreia no formato longa-metragem.

Que lições sobre a pluralidade e a resiliência do cinema você teve em 2021, com a passagem e a vitória de "Fantasma Neon" em Locarno?

Leonardo Martinelli: Ter esse reconhecimento do cinema brasileiro no exterior foi de grande significado para mim. Ao mesmo tempo que os incentivos ao audiovisual estão sendo cada vez mais sufocados no Brasil, os mais importantes festivais do mundo ainda reconhecem a qualidade do nosso cinema. Nesse sentido, vamos buscando forças para seguir e tentar resgatar e reconstruir o que está sendo tomado em nosso país. O Festival de Locarno é um evento que valoriza profundamente o cinema internacional, com diversidade de linguagens.

O que você desenvolve na residência artística da 75ª edição de Locarno, até quando fica na Suíça e o quanto esse novo projeto se conecta com o seu curta, laureado em 2021?

Na residência, estou desenvolvendo meu primeiro projeto de longa-metragem, que será no mesmo universo do curta "Fantasma Neon". Nesta primeira fase, doze selecionados do mundo todo passaram três dias trocando ideias e perspectivas sobre nossos projetos uns com os outros e com mentores. Para a segunda fase, que tive a honra de ser um dos três premiados, passarei algumas semanas em Veneza e Locarno, ao longo de 2022 e 2023, escrevendo o roteiro do longa e recebendo mentorias. No longa do "Fantasma Neon", vamos nos aprofundar nesse universo musical dos entregadores de aplicativo e a forma como o microcosmo desses trabalhadores representa uma situação maior e endêmica no Brasil.

Quais são as expectativas para Gramado e quais os planos para a carreira do teu curta no Brasil? Por que festivais ele passou em 2021? Quantos prêmios ganhou?

Estamos muito felizes de finalmente estrear nosso curta no Brasil, e que essa estreia tão simbólica seja no Festival de Gramado. Depois de lá, começaremos nosso circuito nacional, que já está com passagens confirmadas para os festivais de Vitória, Kinoforum, Finos Filmes e outros. Ao longo de 2021, passamos por mais de cem festivais internacionais em todos os continentes, conquistando mais de dez prêmios.

Que vertentes do melodrama você explorou no filme? Que relações você encontra entre o cinema brasileiro e esse gênero?

O cinema de gênero foi de grande influência para o "Fantasma Neon" e acredito que também é uma grande presença para o audiovisual brasileiro, em particular na televisão. Com essas outras abordagens de linguagem podemos muitas vezes usar dos artifícios do cinema e suas facetas para trazer uma outra perspectiva da realidade.

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