Sean Penn, o cineasta

Inclusão de 'A Promessa' na Netflix, atrai olhares sobre a obra do astro de 62 anos como diretor, com .doc inédito sobre a Guerra da Ucrânia e três indicações à Palma de Ouro

Por

O sempre controverso Sean Penn durante a coletiva de imprensa do documentário 'Superpower' no Festival de Berlim deste ano

Por Rodrigo Fonseca

Especial para o Correio da Manhã

Estrelado por Jack Nicholson, com direito a estrelas como Sam Shepard, Vanessa Redgrave, Patricia Clarkson, Robin Wright, Benicio Del Toro, Helen Mirren, Aaron Eckhart e um Mickey Rourke em estado de graça, "The Pledge" (2001), traduzido aqui como "A Promessa", estreou faz pouco na grade da Netflix atraindo holofotes para a obra pouco falada de seu realizador: Sean Penn.

Em fevereiro, o astro de 62 anos lançou um documentário chamado "Superpower" na Berlinale, falando da violência cometida por Vladimir Putin na Guerra da Ucrânia, valorizando a estratégia do ucraniano Volodymyr Zelensky no conflito. Codirigido por Aaron Kaufman, este ensaio sobre a violência institucionalizada, recebida com controvérsia pela crítica, ainda não teve sua data de lançamento no Brasil divulgada. "Este não é um filme parcial. Fala de uma guerra não ambígua", disse Penn na coletiva de Berlim.

Em maio, em Cannes, ele foi muito aplaudido em seu desempenho no thriller dramático "Black Flies", sobre o dia a dia de uma unidade móvel de paramédicos de Nova York. Na Croisette, ele só respondeu sobre seus trabalhos como intérprete, sem comentar nada sobre Zelensky ou sobre a porção cineasta de sua carreira, iniciada em 1979 e coroada com dois Oscars de Melhor Ator, dados por "Milk - A Voz da Igualdade", em 2009; e por "Sobre Meninos e Lobos", em 2004.

Neste momento, ele está dirigindo um .doc, sobre o jornalista saudita Jamal Khashoggi (1958-2018), vítima da brutalidade do governo de sua pátria. Penn tem uma tendência autoral em denunciar silenciamentos e desamparos estatais, tendo participado de um movimento para ajudar o Haiti, em 2012. Mas foi na ficção que ele mais se destacou como diretor, embora seus filmes - personalíssimos - encontrem pouco ou zero ressonância no cinemão. A jornalista Bianca Kleinpaul cunhou, em 2007, uma expressão perfeita para definir Penn aos olhos da indústria cinematográfica: "o odiadinho de Hollywood".

Mesmo os grandes realizadores evitam elencá-lo, cientes de que sua personalidade combativa por vezes cria uma série de rusgas. Ele e Woody Allen, por exemplo, terminaram "Poucas e Boas" (1999) sem se falar. Só Terrence Malick, entre os titãs na ativa, adora filmar com ele, tendo convidado o ator para "Além da Linha Vermelha" (Urso de Ouro de 1999) e "A Árvore da Vida" (Palma de Ouro de 2011). Destaca-se ainda Paul Thomas Anderson, que o incluiu numa singular participação em "Licorice Pizza". Fora isso, Brian De Palma, que não filma nada desde "Dominó" (2019), tinha Penn como um fetiche. Mesmo assim, ele ainda atua, mais em séries ("The First - Viagem a Marte" e "Gaslit", no Globoplay) ou em filmes indies, como "Daddio", de Christy Hall, no qual ele vive um taxista que conduz uma moça em crise ao aeroporto. Em filmes que dirige, não costuma atuar, à exceção de "Flag Day: Lembranças Perdidas", que concorreu à Palma dourada em 2021. Ali, ele vive um trambiqueiro que tenta lidar com sua caçula, Dylan Penn, filha de Sean na vida real. Inédito em circuito exibidor brasileiro, o longa pode ser visto na Amazon Prime.

Lá é possível (re)ver alguns dos melhores momentos de Penn à frente das telas, como "Colors - As Cores da Violência" (1988), de Dennis Hopper; "Tiro de Misericórdia" (1990), de Phil Joanou; "Reviravolta" (1997), de Oliver Stone; "A Intérprete" (2005), de Sydney Pollack; e "Aqui É O Meu Lugar", de Paolo Sorrentino.

A Amazon acolhe ainda alguns filmes que Penn dirigiu, como "Acerto Final" (1995), que valeu uma indicação de Melhor Atriz Coadjuvante para Anjelica Huston; "Na Natureza Selvagem", seu maior sucesso, consagrado pela trilha sonora de Eddie Vedder; e "The Last Face - A Última Fronteira", indicado à Palma em 2016. Este fala da relação entre cirurgiões ligados aos Médicos Sem Fronteiras, vividos por Charlize Theron e Javier Bardem.

"Queria falar sobre as contradições de quem se dedica a salvar vidas. Fui atrás da realidade nas zonas de guerra da África, filmando com uma multidão de pessoas como figurantes para retratar aquilo que a gente viu em campo: uma multidão de gente com problemas diante dos horrores da violência", disse Penn ao Correio dsa Manhã ao fim da exibição de "A última fronteira" em Cannes. "Filmamos na Cidade do Cabo buscando eliminar qualquer traço épico dos médicos: são pessoas normais, sujeitas a falhas, a dúvidas, a paixões, correndo riscos".

Difícil é encontrar em streaming o primeiro longa dirigido por Penn, "Unidos Pelo Sangue" (1991), indicado ao Leopardo de Ouro de Locarno. É a saga de uma família em xeque, num embate entre os irmãos Joe e Frank Roberts, vividos por David Morse e Viggo Mortensen, com direito a Patricia Arquette, Valeria Golino, Dennis Hopper e (pasmem!) Charles Bronson no elenco. São surpresas que Penn nos reserva.