Por: Por Rodrigo Fonseca (Especial para o Correio da Manhã)

Iguarias de Donostia

Claire Denis em sua passagem pelo festival em 2022: a realizadora francesa regressa a San Sebastián este ano para presidir o júri da disputa pela desejada Concha de Ouro | Foto: Alex Abril/SSIFF

 

Localizada no norte da Espanha, numa área de 60 km² banhada pelas águas do Golfo da Biscaia, a cidade de San Sebastián, fundada em 1180, inaugurou em 1953 um dos festivais de maior prestígio do mundo, capaz de mobilizar cineastas do mais alto calibre. É parte de um grupo seleto de eventos que inclui as maratonas cinéfilas de Roterdã, Berlim, Cannes, Locarno, Veneza e Toronto, pela habilidade de revelar estéticas e consagrar grifes autorais com sua láurea principal, a Concha de Ouro.

A edição deste ano, de número 71, começa na próxima sexta-feira, com a projeção hors-concours da animação japonesa "The Boy and the Heron" ("Kimitachi Wa Do Ikiru Ka"), do mestre Hayao Miyazaki, que receberá um prêmio honorário na abertura do evento: o troféu Donostia. Esse é o nome da cidade em basco, um dos sotaques falados por lá, incluindo sua derivação mais antiga, o Euskera, considerada a língua mais antiga da Europa.

É nesse ambiente, de praia, famoso pelos pintxos (iguarias que combinam rodelas de pão com mariscos, crustáceos, queijos e presunto) que a aclamada realizadora francesa Claire Denis (de "Com Amor e Fúria") vai assumir a presidência do júri.

Ao lado de Claire estarão a atriz chinesa Fan Bingbing; a produtora e diretora colombiana Cristina Gallego; a também francesa Brigitte Lacombe, fotógrafa; o produtor húngaro Robert Lantos; a estrela espanhola Vicky Luengo; e o diretor nº 1 da Alemanha, Christian Petzold, que vai exibir lá o festejado "Afire", ganhador do Grande Prêmio do Júri da Berlinale, em fevereiro. Essa plêiade de artistas tem 16 longas-metragens para avaliar.

Estão em concurso: "All Dirt Roads Taste of Salt", de Raven Jackson (EUA); "A Journey in Spring", de Tzu-Hui Peng e Ping-Wen Wang (Taiwan); "Un amor", de Isabel Coixet (Espanha); "Ex-Husbands", de Noah Pritzker (EUA); "Fingernails", de Christos Nikou (EUA); "Great Absence", de Kei Chika-Ura (Japão), "Kalak", de Isabella Eklöf (Dinamarca); "MMXX", de Cristi Puiu (Romênia); "Puan", de María Alché e Benjamín Naishtat (Argentina); "La Práctica", de Martín Rejtman (Argentina), "L'Ile Rouge", de Robin Campillo (França); "The Royal Green", de Kitty Green (Austrália); "O Corno", de Jaione Camborda (Espanha/ Portugal); "Un Silence", de Joachim Lafosse (Bélgica); "Le Successeur", de Xavier Legrand (França); e "El Sueño de la Sultana", de Isabel Herguera (Espanha).

O Brasil não tem protagonista na caça à Concha, mas terá dois títulos na mostra competitiva Horizontes Latinos: "Pedágio" e "Estranho Caminho".

Exibido já em Toronto, "Pedágio", é o regresso da diretora Carolina Markowicz após o êxito de "Carvão" (2022) e é ligado ao rastreio das intolerâncias inerentes a esta pátria, sobretudo a bestialidade da homofobia. Maeve Jinkings entra em cena no papel da mãe de um menino queer (Kauan Alvarenga) a quem ela submete a um tratamento de cura gay. Laureado com quatro prêmios no Festival de Tribeca (NY), o estonteante "Estranho Caminho", de Guto Parente, estrelado por Carlos Francisco, fala da luta de um jovem cineasta para se reaproximar do pai num contexto de uma epidemia.

Inclua entre os laços de San Sebastián com a brasilidade a animação "They Shot the Piano Player", longa de Fernando Trueba e Javier Mariscal sobre o sumiço do pianista Tenório Jr. (1941-1976) em meio à ditadura argentina. É o longa de abertura do Festival do Rio 2023, que começa no dia 5 de outubro.

Em outras latitudes, San Sebastián vai projetar potenciais concorrentes ao Oscar 2024 como o documentário ensaístico "Orlando, Ma Biographie Politique", do cineasta não binário Paul B. Preciado; o vencedor da Palma de Ouro deste ano, "Anatomia de uma Queda", de Justine Triet; o encantador drama "Perfect Days", de Wim Wenders; o estudo sobre imigração "Io, Capitano", que rendeu a láurea de Melhor Direção a Matteo Garrone em Veneza; e "The Zone of Interest", que deu o Grande Prêmio do Júri de Cannes ao inglês Jonathan Glazer. Para o encerramento de suas atividades, o curador José Luis Rebordinos, convocou "Dance First", cinebiografia do dramaturgo Samuel Beckett (1906-1989), com Gabriel Byrne, sob a direção de James Marsh.

 

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