Terror pancadão, 'A Freira' gera calafrio como toda a franquia de James Wan
Cada aparição de Valak, o demônio vestido num hábito católico, gera um tipo de desconforto que gela o ventre, mas satisfaz a alma cinéfila
Por Rodrigo Fonseca
Especial para o Correio da Manhã
Não sobra uma unha não roída de "A Freira 2" ("The Nun II"), nova produção do Rei Midas do assombro James Wan ("Jogos Mortais"), capaz de gerar um calafrio por minuto ao longo de 1h50 de pavor que começa brilhantemente a mantém seu ritmo "trincado" até o fim, sem uma derrapadinha sequer.
Cada aparição de Valak, o demônio vestido num hábito católico, gera um tipo de desconforto que gela o ventre, mas satisfaz a alma cinéfila.
Sua montagem, pilotada por Gregory Plotkin, decola e não aterrissa, num voo eletrizante, com turbulência eficaz. Consegue ser mais tenso do que o primeiro longa-metragem dessa franquia, de 2018, orçado em US$ 22 milhões, e consagrado como sucesso à força de US$ 365 milhões.
A direção de Michael Chaves não tem muita identidade, decalcando todo o conceito sombrio imposto por Wan em "Invocação do Mal" partes I e II (2013 e 2016), onde a tal Freira surgiu, mas é competente, viva. Para além disso, Valak peita a metástase simbólica dos novos tempos.
Entre as múltiplas contraindicações provocadas pelo patrulhamento da correção política no audiovisual, sobretudo na seara dos filmes de gênero, uma das reações adversas mais graves é a hipótese de que o "jump scare" seria um dispositivo redutor da inteligência no cinema de terror.
O termo se refere àquela sensação de sobressalto que temos, num "Sexta-Feira 13" qualquer da vida, quando Jason salta diante de suas vítimas, quando menos se espera - ou quando a trilha sonora planta a impressão de algo perigoso por vir -, tirando toda a plateia do prumo, gerando gritos e saltos na poltrona. Esse foi, durante anos a fio, o "benefício básico" do horror como produto, ou seja, aquilo que leva espectadores a pagarem ingresso para prestigiar o filão. Mas como esse atrativo envolve reações física... quase fisiológicas... na recepção, ele passou a ser visto como algo retrógado, manipulador. Com isso, narrativas horroríficas foram sendo esterilizadas, indo pro papo e não para a ação.
Eis que surge "A Freira 2" para nos redimir dessa cantilena castradora. Sem pudor algum de ser frenético, o filme de Chaves é um espetáculo gráfico tenso e sanguinolento que peca apenas pela falta de esmero em sua fotografia. Anjo caído, Valak volta a se manifestar na França pós II Guerra, atrás de uma relíquia sacra. Suas manifestações levam o Vaticano a acionar a Irmã Irene (Taissa Farmiga), adversária do demo no longa anterior, que aqui, firma-se como heroína empoderada, tendo a noviça Debra (Storm Reid, ótima), como dinâmica. Dá medo! E como!