O adeus aos 'Mercenários'

Franquia de ação idealizada por Sylvester Stallone volta às telas com Megan Fox no elenco e a promessa de encerrar um ciclo na carreira do eterno Rambo

Por Por Rodrigo Fonseca (Especial para o Correio da Manhã)

Além de contracenar, Sylvester Stallone é um dos produtores de 'Mercenários 4'

Previsto para estrear no dia 3 de novembro na Netflix, o documentário "Sly", de Thom Zimny, vai encerrar a grade de estreias do Festival de Toronto neste sábado, no Canadá, narrando os bastidores da vida profissional de Sylvester Stallone, numa projeção que serve de esquenta para a estreia do que promete ser a última aventura da franquia "Os Mercenários".

Na quinta, cinemas do mundo todo vão receber a quarta parte da saga responsável por reanimar os filmes de ação, trazendo o eterno Rocky Balboa como produtor e ator. Sua carreira nos anos 2010 e 2020 deu uma guinada. Septuagenário, ele concorreu ao Oscar e ganhou o Globo de Ouro de Melhor Coadjuvante por "Creed" (2015); recebeu homenagem pelo conjunto de sua obra em Cannes, em 2019; protagonizou o seriado de máfia "Tulsa King", na Paramount Plus; e ainda virou estrela de um reality show sobre sua família. Não contente, lançou uma nova versão de "Rocky IV", com imagens inéditas do combate entre Balboa e Ivan Drago. Mas agora é hora e vez de dar adeus a Barney Ross e sua turma de combatentes.

Cifras na ordem dos US$ 805 milhões fizeram da franquia "The Expendables", título original de "Os Mercenários", uma garantia de salas exibidoras lotadas a partir de um conceito estruturado pelo próprio Stallone, depois de voltar de um show. Ao levar sua mulher, a modelo Jennifer Flavin, a um concerto de blues e jazz, que reunia talentos do passado, egressos de bandas e orquestras distintas, ela comentou com o companheiro: "Só você para gostar dessa velharia, hein? O que você vê de bom nessa turma?". A resposta do bom e velho Rambo: "A beleza da experiência". Foi o que ele contou em Cannes, durante o tributo que recebeu. O encantamento provocado pela junção de lendas, nunca antes reunidas, deu um estalo no astro. Por que não aplicar esse conceito no cinema, reunindo medalhões dos filmes de ação dos anos 1980 e 90, a era de ouro do filão? Parceiros de outrora, como Wesley Snipes e Dolph Lundgren, foram misturados a estrelas como Jet Li, Van Damme e Terry Cruz, abrindo espaço, nos anos seguintes para mulheres empoderadas como Nan Yu e Ronda Rousey, às quais, no quarto filme, Megan Fox veio se juntar. Mas o eixo da dramaturgia estava na confiança de Sly em Jason Statham, uma espécie de herdeiro histórico do posto de ferrabrás da pancadaria.

"A confiança de certos diretores no meu trabalho me faz valorizar a expectativa do público. Todo personagem que encarnamos, no universo de ação, tem a dimensão taciturna e a retidão de um samurai", disse Statham ao Correio da Manhã, em 2021, quando lançava "Infiltrado", já ciente de que Stallone contaria com ele para reanimar a grife dos Mercenários.

Lee Chistmas tornou-se o Expendable n°1, herdando o comando de campo do estrategismo de Barney Ross (Stallone). O sucesso recente da cinessérie "MegaTubarão" (o segundo, ainda em cartaz, faturou US$ 386 milhões) ampliou o prestígio popular de Statham. Sua presença pode fazer do quarto filme um fenômeno na venda de ingressos, revitalizando a relevância comercial do cinema de ação num momento em que "John Wick" renovou todos os códigos estéticos do filão. A lógica em que Sly se fia para a construção das narrativas evoca "Os Três Mosqueteiros": "Um por todos, e todos por um". É o que se vê agora, no novo longa, com o ímpeto de Christmas para salvar seus companheiros. O vilão agora é Suarto Rahmat (papel de Iko Uwais), um terrorista que ameaça usar bombas nucleares para forçar uma guerra com a Rússia. Barney terá uma nova leva de aliados, com destaque para Megan e Andy Garcia. Bruce Willis, forçado a se aposentar pela afasia, não estará em cena, nem Schwarzenegger.

Idealizado em 2008, o primeiro "The Expendables" foi rodado parcialmente no Brasil, no Rio, em Mangaratiba. Seu roteiro é inspirado levemente em "Os Sete Samurais" (1954), de Akira Kurosawa. O segundo filme, "The Expendables 2", surpreendeu a plateia ao trazer Chuck Norris de volta aos cinemas. Seu personagem, Booker, respeitado por todos, conta que foi picado por uma cobra venenosa. "O que aconteceu com você depois disso?", pergunta Barney. A resposta de Booker: "A cobra morreu".