Por: Rodrigo Fonseca (Especial para o Correio da Manhã)

Franco Nero: 'Enquanto estiver me divertindo, sigo filmando'

Franco Nero, ator e cineasta italiano | Foto: Divulgação

Django roga a Deus e manda bala: Franco Nero, o astro do aclamado faroeste de Sergio Corbucci de 1966, está no Brasil para curtir o Festival do Rio. Saído de uma experiência recente como diretor, chamada "The Man Who Drew God", na qual peitou a patrulha da correção política ao escalar Kevin Spacey, o ator italiano de 81 anos veio promover o drama "Anos Felizes" ("Giorni Felice"), de Simone Petraglia.

Em sua trama, uma atriz de sucesso internacional, Margherita (vivida por Anna Galiena) é atingida por problemas físicos e diagnosticada com esclerose lateral amiotrófica. Seu ex-companheiro, Antonio (vivido por Nero), decide ajudá-la. Mas os dois, separados há muitos anos, reconstroem a sua relação por meio da peleja diária contra o sofrimento. No papo a seguir, o astro nascido em Parma conta ao Correio da Manhã como conduz sua carreira.

Celebrizado como ator e ainda na ativa, o senhor entrou em "Dias Felizes" depois de ter dirigido um longa, "The Man Who Drew God". De que forma a direção talhou seu olhar para os sets?

Franco Nero: Fiz há algumas décadas um longa chamado "Forever Blues" para realizar meu desejo antigo de dirigir, que vem desde a tenra juventude. Antes, eu considerava atuar e rodar o filme ao mesmo tempo, mas agora eu passei a separar as funções. Se assumir a direção, eu não atuo. Fui chamado para atuar com muitos dos grandes diretores da Europa. Filmei com Elio Petri, Damiano Damiani, Claude Chabrol, Rainer Werner Fassbinder, ao mesmo tempo em que fazia policiais e western.

De que maneira "Dias Felizes", de Simone Petraglia, entra nesse seu rol de escolhas?

Recebi o roteiro e fiquei muito impressionado por ser um romance entre duas pessoas grisalhas. Só me lembro de ver algo desse tipo em "Amor", de Michael Haneke. Eu já fiz muito filme de baixo orçamento. Recusei um papel em "O Protetor 3", em Los Angeles, que ia me render uma grana, e a chance de contracenar com Denzel Washington, para encarar esse projeto na Itália. Não é dinheiro que me move. Nunca foi. Enquanto estiver me divertindo, sigo filmando.

De que maneira "Django" marcou a sua carreira?

Quando lancei o livro com minhas memórias, dei ao texto o nome de "Django e Gli Altri" (em português, "Django e Os Outros") porque, apesar de esse personagem ter me dado fama, eu fiz dezenas de outros. Foram 240 filmes dos anos 1960 até hoje. Sergio Corbucci, seu diretor, era um homem muito bem-humorado. Ele dizia: "John Ford tem Johm Wayne; Sergio Leone tem Clint Eastwood; eu tenho Franco Nero". Aquele filme foi rodado sem dinheiro nenhum. Nós rodamos o início uma semana antes do Natal de 1965, quando o roteiro ainda não estava pleno. É um milagre ter dado certo como deu. Eu fui chamado para filmar "Camelot" na época em que Corbucci desejava fazer um outro western, "O Vingador Silencioso", que não pude rodar. Ele fez esse faroeste com Jean-Louis Trintignant e Klaus Kinski. Mas ficou bravo comigo.

Mas o sucesso daquele pistoleiro engessou a sua persona de alguma forma?

É como ocorreu com Sean Connery, que ficou marado pelo 007 por muito tempo. Mas como eu disse "Não!" para muitos convites, movido pelo prazer de filmar e não pelo cachê, eu pude circular pelos mais variados gêneros. Fiz filmes na Inglaterra, Alemanha, Itália, Croácia e até no Brasil, onde fui dirigido por Lúcia Murat (em "A Memória Que Me Contam"). Outro dia, fui chamado para uma participação no projeto novo de Julian Schnabel (indicado ao Oscar por "O Escafandro e a Borboleta"). Era pequeno o papel, mas ele fez uma promessa de que quando fizer a cinebiografia de Luis Buñuel, vai me levar para o papel principal. É assim que eu vou seguindo.

 

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