Por: Rodrigo Fonseca (Especial para o Correio da Manhã)

Festival do Rio: repescagem à moda filipina

Logo Festival do Rio | Foto: Divulgação

Acabou o Festival do Rio, mas a repescagem do evento começou, e vai até quarta, com sessões no Estação NET Botafogo 1 e no Estação NET Rio 4, que inaugura o rolê à moda filipina, com "Verdades Essenciais do Lago". É a grife de Lav Diaz quem abre as portas da esperança pra quem almeja uma segunda chance de se refestelar com o evento.

Apesar de ter 215 minutos de duração - mas são 215' de um preto e branco acachapante, capaz de tirar o olhar da mais atenta plateia de seu norte -, o thriller político e existencialista batizado mundialmente como "The Essential Truths Of The Lake" passa num piscar de olhos. Ele concorreu ao Leopardo de Ouro de Locarno, em agosto. É um dos títulos mais aclamados de uma carreira iniciada em 1998 e já coroada com um Leão de Ouro - dado a ele em 2016, por "A Mulher Que Se Foi".

"Não se trata um filme com inércia, mas como resistência", disse Diaz ao Correio da Manhã durante sua passagem por Locarno durnate o festival promovido na cidade suiça.

"É muito incômodo perceber que as pessoas entendem a palavra 'cinema' como algo associado a uma manifestação de duas horas de duração ou de uma hora e meia de reviravoltas formatadas pelo mercado sob uma lógica contínua de causa e efeito, na qual as sensações se amontoam para conduzir o espectador a uma certeza. As pessoas vão ao cinema para descobrir quem matou quem, quem roubou quem, quem tem a chave para o enigma. Eu venho de um país cheio de conflitos. Conflitos que já levaram muitas pessoas à morte. Você realmente acredita que existam 'respostas', 'verdades' na arte que vem de uma realidade como a das Filipinas? E mais... você acha que isso é um problema só da minha nação?", questiona o realizador.

Capaz de emplacar dois longas (de cerca de quatro horas de duração cada) num período de dez meses, o diretor de 64 anos despertou paixões e polêmicas no festival nº 1 da Suíça com uma trama investigativa.

Nela, o tenente Hermes Papauran (John Lloyd Cruz) luta para desvendar um crime que assombrou seu país há 15 anos, à beira de um vulcão.

"O preto & branco entra na minha arte como um efeito de linguagem: o cinema precisa suspender a realidade para exumá-la. E a direção é distendida para que cada sequência, ou melhor, cada plano possa ser apreciado em todos os seus detalhes, desde o movimento dos atores até a lei física por trás do vento nas folhas. Eu não corro pois não faço produtos. Faço propostas de transcendência, o que depende da troca livre com o espectador. Cinema não é negócio, é ritual".

Sua engenharia de produção surpreende distribuidoras, redes exibidoras e cadeias de produção: "Filmo muito por conseguir filmar barato, com equipes pequenas, sem perder tempo no set", explicou Lav. "Cada longa que eu faço custa cerca de 5 milhões de pesos filipinos, o que, na conversão bruta, dá cerca de US$ 90 mil. Existem salas de cinema nas Filipinas, mas elas não exibem o que a gente faz, por estarem tomadas por blockbusters. Por sorte, temos bons festivais. Recentemente sofri censura de um festival local, mas entendi perfeitamente o lado deles. O governo ia negar financiamento a eles se exibissem uma produção minha que consideravam contrária ao regime. Explicaram-me o caso e eu entendi".

Nesta segunda, a Repescagem do Festival mobiliza o Estação NET Botafogo 1 com "Os Homens que Eu Tive", de Tereza Trautman, às 14h; com "Não Abra!", de Bishal Dutta, às 16h30; com o premiadíssimo "O Sabor da Vida", de Tràn Anh Hùng (láurea de Melhor Direção em Cannes), às 21h30. Na terça, o Estação NET Rio 4 exibe o saboroso "Menu Prazer - Les Troisgros", de Frederick Wiseman, às 18h30. Na quarta, a mesma sala projeta o díptico lisboeta "Mal Viver" e "Viver Mal", de João Canijo, a partir de 18h30.

 

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