Por: Rodrigo Fonseca (Especial para o Correio da Manhã)

Diáspora cinéfila

'Lupicínio Rodrigues: Confissões de um Sofredor', de de Alfredo Manevy, abre a programação | Foto: Divulgação

Acabado o Festival do Rio começa o FESTin. Uma nova edição do Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa abre suas portas nesta terça-feira, na Caixa Cultural (Rua do Passeio 38), com foco voltado em manifestações audiovisuais de diferentes sotaques que compõem o falar da Flor do Lácio.

Sua programação traz 25 títulos, quase todos inéditos na cidade, que vão estar em exibição até o dia 29, vitaminado por debates, oficinas, sessões voltadas para o público infantil. E tudo é 0800, a começar o longa de abertura, uma joiazinha das estéticas musicais de não ficção chamada "Lupicínio Rodrigues: Confissões de um Sofredor", de Alfredo Manevy. No cardápio voltado pra gente miúda tem a animação mineira "Chef Jack - O Cozinheiro Aventureiro", assinada por Guilherme Fiuza Zenha.

No empenho de valorizar a ampliação da presença feminina nas telas, o evento - arquitetado por Léa Teixeira e Adriana Niemeyer, suas diretoras - recheou sua grade de títulos dirigidos por mulheres. Um deles é "Elle, Marielle Franco", de Liliane Mutti e Daniela Ramalho, filme ensaio centrado na ausência que a vereadora e ativista das lutas antirracistas e da batalha contra a homofobia deixou em nós, após seu bestial assassinato, ainda cercado de impunidade. Nesse curta, a voz de Marielle alterna com a voz de dor da sua mãe, Marinete, e de seu pai, Antônio. Já "Através dos Seus Olhos", de Sonia Guggisberg, registra um sonho de amor vivido a distância entre uma brasileira moradora da Ceilândia (DF), filha de um pastor evangélico, e um iraquiano de origem curda islâmica, que mora em um campo de refugiados na Grécia. Merece destaque também o trabalho do diretor cabo-verdiano Guenny K. Pires, que está na Mostra com o "O Último Desejo do Vulcão", sobre contação de histórias numa pequena aldeia africana.

Na entrevista a seguir, Léa e Adriana dimensionam o perímetro simbólico do evento.

Qual é o maior desafio de se montar uma seleção de curtas e longas que ilustre a potencialidade da língua portuguesa em todas as suas variantes? Que norte a seleção tem?

Léa Teixeira: O maior desafio é definir, entre muitos bons filmes disponíveis, aqueles que retratem de forma equilibrada essas diferentes variantes e que também sejam culturalmente representativos e artisticamente significativos. Além disso, é importante considerar a diversidade de temas, estilos e abordagens criativas que podem ser encontradas dentro da produção cinematográfica lusófona. O norte da seleção deve ser a promoção da diversidade linguística e cultural da língua portuguesa. Isso significa incluir filmes que explorem não apenas as diferenças linguísticas, mas também as histórias, tradições e perspectivas únicas de cada país lusófono. A seleção deve ser inclusiva, representativa e independente, de modo a oferecer uma visão abrangente da riqueza da língua portuguesa.

Adriana Niemeyer: Recebemos milhares de curtas de todos os países de língua portuguesa e esta categoria acaba sendo mesmo a mais difícil para a curadoria. Principalmente pensando nas itinerâncias que o festival faz durante o ano. É muito difícil selecionar, pois a gama de produção é sempre muito boa, mas a tendência é dar prioridade ao que abordem temas mais universais.

Qual é o perfil de público do FESTin, quantos espectadores vocês costumam reunir anualmente, e que tipos de debates mais norteiam o festival?

Léa Teixeira: O Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa (FESTin) é conhecido por atrair um público diversificado, incluindo cinéfilos, amantes da cultura lusófona, profissionais da indústria cinematográfica e o público em geral interessado em explorar o cinema produzido nos países lusófonos. O número de espectadores varia em cada edição. É difícil de contabilizar pois fazemos muitas itinerâncias anualmente.

Adriana Niemeyer: Acho que o FESTin é o festival que mais abrange um público de perfil variado. Este retrato é facilmente perceptível durante as nossas festas, onde reunimos desde grandes empresários, políticos, embaixadores e artistas de renome, a estudantes, imigrantes, crianças e pessoas da terceira idade. Não existe um nicho. Costumamos dizer que se trata da maior "Festa do cinema em português". E a festa é mesmo para todos. Tanto é que a maioria dos debates gira em torno da inclusão social e da diáspora.

Que desenho estético de Brasil se faz notar pela programação deste ano?

Léa Teixeira: Um país alegre, inclusivo, musical e repleto de esperança, mas consciente de que há muitos problemas a serem enfrentados e sanados em nossa sociedade. E as artes têm esse papel a contribuir para uma transformação social, com todas as simbologias culturais.

Adriana Niemeyer: Diversidade. Esta é a palavra que mais define toda a programação do FESTin 2023. Acho que foi a seleção mais variada dos últimos 14 anos de existência do festival. E muito desta diversidade se deve ao Brasil. O cinema brasileiro tem sido mais ousado e corajoso, revelando as feridas mais profundas e contrastantes da nossa sociedade. Não existem mais tabus e se vive nas telas a verdade nua e crua das nossas mazelas, bem como a arte, a beleza e a criatividade do povo brasileiro.

 

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