Martin Scorsese, o bom companheiro dos filmes

Às vésperas da estreia de 'Assassinos da Lua das Flores', Estação NET Rio faz sessão de 'Os Bons Companheiros' para celebrar a força autoral de Martin Scorsese

Por Rodrigo Fonseca (Especial para o Correio da Manhã)

Os velhos amigos Robert De Niro e Martin Scorcese no set de filmagens de 'Os Bons Companheiros', que ganha exibição esta semana no Estação NET

Só o fato de trabalhar novamente com seus musos (Robert De Niro e Leonardo DiCaprio) já fez Martin Scorsese tratar "Killers of the Flower Moon" - que estreia aqui na quinta, com o título de "Assassinos da Lua das Flores" - como um espaço de afeto, e não apenas como mais um filme, em sua obra.

"De Niro e eu nos conhecemos desde os 16 anos e, agora, estamos numa idade em que a gente se liga para falar de dores novas que estamos sentindo ou de algum cansaço que não fazia parte de nossas rotinas quando Nova York era um mar de criatividade aberto a nós", disse o mítico cineasta em palestra no 17º Festival de Marrakech, em 2018, onde foi homenagear seu velho amigo, que protagonizou sua Palma de Ouro ("Taxi Driver") e um longa divisor de águas em sua obra: "Os Bons Companheiros" ("Goodfellas").

Nesta quarta-feira, às 19h, no Estação NET Rio 5, a produção de US$ 25 milhões será exibida e debatida num evento organizado pela plataforma de conteúdo audiovisual SETxSE7E, idealizada e comandada pelo carioca Gustavo Valente.

A projeção no tradicional cinema de Botafogo fecha o ciclo de homenagens da plataforma a Scorsese, que tiveram início no perfil no Instagram (@setporsete), com posts que trazem curiosidades sobre a obra do diretor e comentários sobre clássicos "Touro Indomável" (1980). E, no site setporsete.com.br, Gustavo faz a resenha de alguns destes filmes. Ele vai estar no debate ao lado do mítico cineasta Carlos Diegues, do realizador e produtor cultural do Estação NET Rio Cavi Borges, do ator Nelson Freitas, do músico André Paixão e deste que vos tecla.

Classificado por Francis Ford Coppola (que prepara "Megalópolis" para 2024) como o maior cineasta vivo, Scorsese tomou as telas de assalto a partir de 1959, com o curta-metragem "Vesuvius VI", e engatou uma produção avassaladora de longas a partir de 1967, com "Quem Bate À Minha Porta?".

Recentemente, sua trajetória inspirou o artista gráfico Amazing Ameziane a recriar detalhes do passado do realizador nova-iorquino em uma narrativa biográfica quadrinhizada. Ameziane, que biografou a militante Angela Davis em uma HQ já lançada no Brasil, contou com o primoroso trabalho da Editions du Rocher para publicar sua reinvenção dos feitos cinematográficos de Scorsese. Nas 384 páginas de "Martin Scorsese: Roman Graphique", Améziane traduz em desenhos exuberantes os bastidores da cruzada do diretor para fazer cinema a partir de uma série de influências do neorrealismo italiano.

O mais curioso é o fato de a publicação desse gibi ter sido foi dois anos depois de Marty (o apelido pelo qual Martin é chamado em Hollywood) ter declarado que filmes de vigilantes mascarados da Marvel não são cinema com "C". Esse episódio entrou na HQ francesa, que revive a amizade do cineasta com De Niro, desde a juventude, e sua trajetória na chamada Nova Hollywood, o movimento que redefiniu as bases políticas do audiovisual nos EUA entre 1967 (com o fenômeno popular de "Bonnie & Clyde - Uma Rajada de Balas", de Arthur Penn) e 1981 (com o fracasso de "O Portal do Paraíso", de Michael Cimino).

"Há cifras muito altas em torno de 'Homem-Aranha', 'Batman' e esses super-heróis todos, mas filmes ousados de diferentes países, feitos com pouco dinheiro, andam sem espaço. Festivais como este devem ajudar essas produções a encontrar seu público", disse Scorsese em Marrakech, para uma plateia lotada, em um papo triangulado por uma dupla de diretores do Marrocos (Laïla Marrakchi e Faouzi Bensaïdi).

Estima-se que "Assassinos da Lua das Flores" possa levar Scorsese ao certame do Oscar, com uma trama de faroeste indigenista, apoiada num desempenho elogiado de Lily Gladstone sobre o destino crepuscular de uma civilização, na virada do século XIX para o XX nos EUA.