Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Croissant cinéfilo

crônica de uma Relação Passageira | Foto: Fotos Divulgação

Quinta que vem começa o Varilux, a maior festa francesa nas telas da América Latina, cheia de bons filmes e pautada por uma reflexão sobre o que o audiovisual de Paris, Marselha, Nice e arredores produzem de melhor.

Sob a curadoria de Emmanuelle e Christian Boudier, chegam aqui 19 longas-metragens inéditos, dois clássicos ("E Deus criou a Mulher", de Roger Vadim, e "O Desprezo", de Jean-Luc Godard) e uma série sobre Brigitte Bardot, uma das principais divas do cinema mundial.

Cerca de 50 cidades (47) serão participantes nesta edição do festival, que vai até 22 de novembro. O destaque dos destaques é a passagem pelo Rio de Janeiro do thriller (com elementos de drama) jurídico "Anatomia de uma Queda" ("Anatomie d'Une Chute"), de Justine Triet, que conquistou a Palma de Ouro em maio, apoiado numa atuação avassaladora de Sandra Hüller no papel de uma escritora acusada de assassinato.

Confira a seguir as atrações imperdíveis da maratona francófona:

CRÔNICA DE UMA RELAÇÃO PASSAGEIRA, de Emmanuel Mouret: Eis "O" filme deste Varilux. Especialista nas fraturas do afeto, o realizador de "Les choses qu'on dit, les choses qu'on fait" (2020) joga nos gramados da comédia com desenvoltura de craque. O que ele arranca de Sandrine Kiberlain e Vincent Macaigne evoca Meg Ryan e Tom Hanks em "Sintonia de Amor" (1993). Taquicárdico e falador, o obstetra Simón, vivido por Macaigne, passa a arrastar um caminhão por uma mulher empoderada, mãe solteira e cheia de certezas chamada Charlotte, vivida por Kiberlain. Por ser casado, ele entra nesse romance cheio de neuras. Mas a balança amorosa penderá por acaso.

ORLANDO, MINHA BIOGRAFIA POLÍTICA, de Paul B. Preciado: Livros como "Um Apartamento Em Urano" (2020) e "Eu Sou o Monstro Que Vos Fala" (2022) fizeram dete cineasta estreante uma grife literária por trás da afirmação identitário dos corpos não binários. Por trás das câmeras, Preciado afirma sua condição de trans, num diálogo - entre narrativa documental e o ensaio - com a obra de Virginia Wolf. Ganhou o troféu Teddy (premiação queer de Berlim) e o prêmio especial da mostra alemã Encontros. Sua montagem é um achado. O longa ganhou o prêmio Félix de Melhor .Doc no Festival do Rio.

CULPA E DESEJO, de Catherine Breillat: Um dos concorrentes à Palma de Ouro deste ano, este drama é um remake do filme escandinavo "Rainha de Copas" (2019), de May el-Toukhy, repaginado agora pela diretora de "Romance" (1999). Léa Drucker tem uma atuação impecável. Ela vive Anne, uma renomada advogada especializada em violência sexual contra menores. Ao conhecer o filho de 17 anos de seu atual parceiro, ela inicia um relacionamento com ele. Ao fazê-lo, corre o risco de pôr em risco a sua carreira e desmembrar a sua família.

O LIVRO DA DISCÓRDIA, de Baya Kasmi: Quando o cinemão francês encasqueta de fazer uma comédia inteligente, não há quem é a segure, vide esta aula de intercâmbios culturais protagonizada por Ramzy Bedia, numa atuação cheia de viço. Seu desempenho como Youssef Salem, um aspirante a autor best-seller, é cheio de nuanças. Salem é descendente de uma família de imigrantes argelinos e vive em Paris onde se dedica à escrita. Após uma série de contratempos, ele decide escrever um romance repleto de pigmentos autobiográficos, sobre os tabus que rodeiam a sexualidade no ambiente onde cresceu. Quando o livro bomba nas vendas e no gosto da crítica, ele gera um problema para seus parentes.

MEMÓRIAS DE PARIS, de Alice Winocour: Premiada mundialmente por filmes centrados na resiliência feminina, como "Augustine" (2012) e "A Jornada" (2019), Winocour compartilha um de seus mais íntimos traumas com as plateias da França hoje ao reviver os atentados terroristas de 13 de novembro de 2015. Na data em questão, terroristas associados ao Estado Islâmico atiraram contra o público da casa de espetáculos parisiense Bataclan, em meio a um concerto de rock. Umas 90 pessoas morreram. Uma dezena de frequentadores saiu ferida. Durante o incidente, Alice estava em casa, com seu namorado, trocando SMSes com seu irmão, que estava no local, em meio aos tiros. O horror daquela lembrança virou uma narrativa audiovisual tensa, estruturada a partir das angústias existencias de uma mulhe, Mia (vivida pela atriz Virginie Efira) três meses depois da violência. Ela continua traumatizada e incapaz de se lembrar dos acontecimentos daquela noite.

MEU NOVO BRINQUEDO, de James Huth: Nova e deliciosamente incorreta versão de "O Brinquedo", comédia francesa de 1976, esta produção traz Daniel Auteuil na pele do homem mais rico da França. Ao abrir uma seção de brinquedos em sua loja, ele comunica ao seu mimado filho que ele pode escolher o que mais desejar como presente de aniversário. E o garoto escolhe como seu novo brinquedo Samy, o vigia abilolado da loja, vivido por Jamel Debbouze.

 

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