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Mirada indígena em ebulição

'Somos Guardiões' foi premiado na Mostra de SP | Foto: Divulgação

Por Rodrigo Fonseca

Especial para o Correio da Manhã

Tratado indigenista, "Somos Guardiões", de Edivan Guajajara, Chelsea Greene e Rob Grobman, saiu do Festival do Rio, em outubro, com status de cult, e confirmou sua vocação para o prestígio sair laureado da Mostra de São Paulo, na semana passada. Saiu do evento paulista com a láurea de júri popular e com o prêmio Cultures of Resistance.

A honraria, no valor de US$ 10 mil, é concedida aos protetores da floresta das aldeias Tembé e Guajajara e à mídia indígena, exclusivamente para a compra de câmeras, drones e tecnologia adicional, e se destina a equipar os indígenas para melhor documentar e proteger a floresta amazônica em seus territórios. O filme foi eleito ainda o Melhor .Doc no Raindance, na Inglaterra. Todas essas vitórias ampliam a expectativa do circuito por sua carreira comercial.

Sua caudalosa narrativa promove um estudo sobre o guardião da floresta indígena Marçal Guajajara e a ativista Puyr Tembé enquanto eles lutam para proteger seus territórios do desmatamento, bem como um madeireiro ilegal que não tem escolha a não ser derrubar a floresta e um grande proprietário de terras à mercê de invasores e da indústria extrativa.

O filme une política, história, economia, ciência e consciência, fornecendo uma visão aprofundada desta situação complexa e crítica — cujas origens e impacto se espalham muito além dos limites da própria Amazônia.

"Não tivemos um roteiro para realizar as gravações, que se estenderam por cerca de três anos", disse Edivan ao Correio. "Fui chamado para facilitar o diálogo entre a equipe e os indígenas nos territórios. Com decorrer do processo de gravação, eu vi que eu faria muito mais do que um simples assistente de logística".

Na luta dos povos originários para a demarcação de sua autoficção e de sua representação etnográfica, "Somos Guardiões" assume um papel geopolítico estratégico, sem abrir mão de seu viés poético. "Meu desejo era contar o que se passa no nosso território", diz Edivan. Queria dar voz àquilo que nossas lideranças passam no seu dia a dia".

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