Já tem data para a 74ª edição da Berlinale: 15 a 25 de fevereiro, na capital alemã. A promessa é que seja o evento de despedida da diretora Mariëtte Rissenbeek, que revolucionou o Festival de Berlim, a partir de 2020, ao levar Carlo Chatrian para a curadoria. A proximidade da festa cinéfila germânica já agita o mercado cinematográfico, com apostas para as vagas na competição pelo Urso de Ouro de 2024. Fala-se desde já nos possíveis concorrentes e de potenciais atrações para seções hors-concours:
"CHOCOBAR", DE LUCRECIA MARTEL (Argentina): Seis anos depois do aclamado "Zama", a diretora argentina aposta nas narrativas documentais, explorando os bastidores políticos da morte do militante indígena Javier Chocobar por latifundiários.
"DANS LE VISEUR", de André Téchiné (França): Isabelle Huppert empresta seu talento a um mestre europeu na saga de uma policial que se afeiçoa por seus novos vizinhos mas entra em dilema ao descobrir que um deles tem um passado de crimes.
"LE CHEMIN DU SERPENT", de Kiyoshi Kurosawa (Japão): O Brian De Palma da Ásia, recebido como um mestre na Berlinale de 2016 com "Creepy", deve retornar ao festival alemão com um thriller protagonizado por Mathieu Amalric, falando da operação armada entre uma agente japonesa e um francês que perdeu a filha num atentado.
"LE MOLIÈRE IMAGINAIRE", de Olivier Py (França): Um dos atores mais consagrados da Europa hoje, Laurent Lafitte encarna o próprio Molière, numa trama ambientada em 1673, quando o dramaturgo apresenta "O Doente Imaginário" e se acometido por um mal de saúde. Seu empenho é permanecer no palco e manter a dignidade.
"LA COLLINE PARFUMEE", de Abderrahmane Sissako (Mauritânia): O diretor indicado ao Oscar por "Timbuktu" (2014) fala de um amor entre imigrantes chineses e africanos em meio à opressão da xenofobia. A trama começa do momento em que uma jovem, na Costa do Marfim, diz "Não!", em sua cerimônia de casamento, e se muda para Guangzhou, na China.
"RELATO DE UM CERTO ORIENTE", de Marcelo Gomes (Brasil): Indicado ao Urso dourado de 2017 com "Joaquim", o cineasta pernambucano pode voltar à disputa alemã com sua imersão no mundo amazônico de Milton Hatoum. A trama acompanha imigrantes libaneses que vão morar em Manaus, capital do Estado do Amazonas, na década de 1950.
"THUG", de Hans Peter Molland (EUA): Queridinho de Berlim, o cineasta norueguês retoma sua parceria com o Charles Bronson dos anos 2010/2020, o irlandês Liam Neeson, a fim de narrar a saga crepuscular de um gângster que, cansado do crime, decide fazer as pazes com parentes há muito sumidos.
"DORAEMON: NOBITA'S EARTH SYMPHONY", de Kazuaki Imai (Japão): Lá se vão 21 anos desde que "A Viagem de Chihiro" deu a Hayao Miyazaki o Urso, consagrando a animação nipônica. Agora, o segmento mais rentável da indústria audiovisual asiática pode voltar ao festival com a saga do gato robótico, chamado Doraemon, que voltou dois séculos no passado para ajudar um estudante desastrado, o guri Nobita Nobi, a se socializar. No novo filme derivado das HQs de do Fujiko F. Fujio, Nobi trava novas amizades numa seara de perigos.
"ALMA", de Sally Potter (Reino Unido): Aos 73 anos, a diretora do cult "Orlando, A Mulher Imortal" (1992) volta às telas para narrar as disputas familiares de um clã de arqueólogos que usa um sítio de escavação de fósseis como arena para uma guerra de egos.
"LOS VIEJOS SOLDADOS", de Jorge Sanjinés (Bolívia): O veteraníssimo diretor de "A Nação Clandestina" (1989) regressa à ficção para narrar a jornada de um grupo de revolucionários da América Latina hoje, numa luta contra contratempos do capitalismo.
"PASHMINA", de Gurinder Chadha (Reino Unido): Nascida no Quênia, a cineasta inglesa de origem indiana aposta na linguagem de animação para narrar o périplo de uma adolescente pra descobrir sua ancestralidade a partir de um cachecol.
"A ARCA DE NOÉ", de Sérgio Machado (Brasil): Produzido por Walter Salles e pelos irmãos Caio e Fabiano Gullane, o novo trabalho do realizador de "Cidade Baixa" (2005) resgata, como longa de animação, os sonetos de Vinícius de Moares, outrora transformados em espetáculo musical, agora na forma de aventura. Nela, um trio de ratos (com as vozes de Alice Braga, Rodrigo Santoro e do já citado Noé) lutam para escapar do dilúvio.
"ARMORED", de Justin Rout (EUA): Agora que Sylvester Stallone virou cult, com homenagem em Cannes (em 2019) e filme de encerramento no TIFF -Toronto Film Festival (em setembro), é provável que ele brilhe em Berlim no papel de um segurança de transporte de valores que tem o caminhão perseguido por criminosos.
"NOBODY'S HEART", DE ISABEL COIXET (Espanha): A prolífica diretora catalã conhecida por cults como "Fatal" (2008) narra a desagregação de um casal vivido por Gugu Mbatha-Raw e Edgar Ramírez, com base em conto de William Boyd.
ESTÔMAGO 2 - O PODEROSO CHEF, de Marcos Jorge (Brasil): O sempre inquietante diretor de "Mundo Cão" (2015) volta aos cinemas depois de brilhar no streaming com uma série sobre Celso Daniel. Rodado parte no Brasil, parte na Itália, esta comédia mafiosa resgata personagens do filme de cult de 2007, premiado mundialmente. Essa "parte dois" acompanha as aventuras do ex-presidiário Raimundo Nonato (João Miguel) na Europa, numa família de gângsters, para a qual vai trabalhar como chef. Aos poucos, sua presença para além da cozinha.
"THE END", de Joshua Oppenheimer (EUA): O realizador de "O Ato de Matar" (2012) volta às telas com um elenco estelar (Tilda Swinton, Michael Shannon, George MacKay) a fim de contar a saga da última família que sobrou no planeta. A história desse clã é narrada em forma de musical.
"HEAVEN AND HELL", de Huang Chao-Liang (China): Produzido pelo midas autoral Jia Zhangke, este thriller narra a relação de amizade entre um fugitivo da Justiça, acusado injustamente de ter assassinado o próprio filho, e um homem exótico, de atitude delirante, vivido por Shi Pengyuan. A relação entre os dois vai beirar a loucura.
"LA PLUS PRÉCIEUSE DES MARCHANDISES", de Michel Hazanavicius (França): Adaptado da literatura de Jean-Claude Grumberg, esta animação do realizador de "O Artista" (Oscar de Melhor Filme em 2012) traz um dos últimos trabalhos do genial ator Jean-Louis Trintignant, morto em 17 de junho deste ano. A trama regressa à Segunda Guerra Mundial, quando uma família judia francesa é deportada para Auschwitz. No trem para o campo de concentração, onde a morte espera seus parentes mais amados, o pai daquele clã, num gesto desesperado, joga um de seus gêmeos na neve, onde o menino é descoberto por um casal polonês.