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Drácula da Cavídeo

Não Sei Quantas Almas Tenho | Foto: Divulgação

Por Rodrigo Fonseca

Especial para o Correio da Manhã

Desde sua passagem pelo Festival de Cannes com o curta-metragem "A Distração de Ivan" (rodado em duo com Gustavo Melo), o cineasta, produtor, judoca e agitador cultural Carlos Vinícius Borges, o Cavi, teve seu nome associado a um veio social, que se fortaleceu com o .doc que rodou a quatro mãos com Luciano Vidigal sobre "Cidade de Deus", em 2012. Porém, numa sinergia de amor, talento e anseios com a atriz, bailarina, coreógrafa e realizadora Patrícia Niedermeier, ele expandiu seus anseios em sua faceta de cineasta. Títulos como "Salto no Vazio", lançado em 2018, levaram o imparável diretor carioca à beira do ensaio. Numa viagem por Portugal, complementada por rodopios por cantos do Rio, ele, Patrícia e um terceiro elo de sua cadeia investigativa da estética audiovisual - o ator e produtor Jorge Caetano - resolveram se arriscar por um filme de vampiros. "Não Sei Quantas Almas Tenho" é uma avassaladora exploração metafísica sobre a durabilidade do espírito num plano existencial no qual a matéria tem seu valor relativizado por ditames morais e pela mercantilização dos corpos.

Paralelamente com seu trabalho de manter o Estação lotado, transformando-se numa espécie de streaming vivo - a Caviflix - para a formação de olhares, Cavi conversa com o Correio sobre esse momento Bram Stoker de sua carreira:

De que maneira "Não Sei Quantas Almas Tenho", assinado por Patrícia Niedermeier, Jorge Caetano e você, demarca uma relação histórica sua de cinéfilo na relação com o cinema de terror?

Cavi Borges: Sou dono de locadora e o gênero terror foi sempre um filão que fez muito sucesso no aluguel de DVDs e do VHS, principalmente para adolescentes e jovens adultos. Não sou um especialista no setor, mas gosto muito de bons filmes horroríficos. Esse longa-metragem que eu fiz com a Pati e com o Jorge é todo cheio de referências cinéfilas. Você vai encontrar dentro dele citações de "Fome de Viver", do Tony Scott, do Bela Lugosi, do "Nosferatu" de Herzog... A gente tem também muito do filme de um super longa do Jim Jarmusch, o "Amantes Eternos", de 2013. Esse talvez seja a nossa maior influência. Não é um filme de vampiro tradicional, não tem tantas mortes, é uma coisa meio existencialista. É vampiro está em crise existencial. Não é um vampiro assassino que morde pessoas. É vampiro que rouba hemácias do banco de sangue dos hospitais. Então, tem muita referência assim, indo até ao Bergman de "O Sétimo Selo".

Como foi o percurso de realização e produção dele?

A gente aproveitou uma viagem para Portugal, para lançar o "Fado Tropical", e começamos a filmar nos castelos de lá. Fomos em Évora. A gente também tinha uma vontade de ir para a Transilvânia filmar, mas acabamos não conseguindo. Depois a gente foi para o Maranhão, numa outra viagem, filmamos lá algumas partes. Finalizamos tudo aqui no Rio, durante a pandemia. Tem várias cenas filmadas dentro do Estação Botafogo.

O que os filmes de vampiro trazem de mais humanista e de que maneira o tema conversa com a sua tradição de filmes mais sociais?

Nosso longa não é um filme de vampiro tradicional. Na verdade, eu diria até que é um filme de amor, só que com vampiros. É a história de um vampiro que se apaixona por uma mulher. Ele não quer transformá-la em vampira pois considera a vida eterna uma maldição. Sua meta é ficar reconquistando essa amada nas novas encarnações pelas quais essa mulher passa. É o Jorge tentando seduzir a Patrícia. É um filme que discute a vida eterna, que discute várias questões filosóficas. Até questões químicas estão lá. A Patrícia é uma química, então a gente usa as tabelas periódicas para demarcar os episódios que costuram a narrativa. A primeira morte do filme vai acontecer lá por uma hora e meia da trama quase, quando a Patrícia realmente resolve virar vampira e se transforma numa sanguessuga assassina. Mas é um filme de filosofia muito influenciado pelas questões que a Patrícia estuda, como a alquimia.

Patrícia, Caetano e você lançaram "Não Sei Quantas Almas Tenho" em meio a uma mostra de terror no Estação, a Terrível. Como você avalia a recepção do público ao evento?

A recepção do público a essas mostras de terror que fazemos é sempre muito boa, e lota. Lota muito. A gente aproveitou essa segunda edição do evento, numa proximidade com o Dia das Bruxas, para lançar nosso filme, que estava inédito, no cinema. Muita gente que estava indo ver a Mostra Terrível, via o trailer do nosso longa passando lá e, depois, vinha ver o nosso filme. Em duas semanas, o filme lotou todas as sessões praticamente, aproveitando esse público festivaleiro. A gente tem percebido que, aqui no Estação, o gênero terror e as tramas LGBTQIAP são os veios que atraem mais público, principalmente os jovens. Praticamente quase todo dia tem sessão lotada aqui para terror, desde "O Iluminado" até a animação "Perfect Blue", passando por "Possessão".

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