Luis Ospina manda a real
No encerramento da Mostra de SP, mestre colombiano ganha um réquiem com .doc sobre seu legado político
Fecha-se nesta quarta-feira (1º) um ciclo audiovisual dos mais concorridos da história da Mostra de São Paulo em seus 47 anos de existência, com o encerramento de uma edição lotada, repleta de autores, que se despede da maior metrópole do país celebrando o legado de um mestre latino-americano da imagem: Luis Ospina (1949-2019). "Hay Que Ser Paciente" e "Todo Comenzó Por El Fin", ambos de 2015, foram os filmes finais de uma travessia audiovisual iniciada em 1964 pelo diretor colombiano responsável pela chamada "Caliwood", um núcleo de produção em Cali.
Ele foi aclamado na Europa por cults como "Vampiros da Miséria" (1977) e "Um Tigre de Papel" (2008). Sua forma de narrar tem um estilo brutalista, entre o real e o horror simbólico. Essa estética será desbravada na Mostra, nesta quarta, no Circuito SPCine Olido, às 16h, com a projeção do documentário "Ospina Cali Colombia", de Jorge de Carvalho, diretor radicado em solo português.
A base de seu longa de 81 minutos é um encontro ocorrido em Lisboa, com Ospina. Ele fala sobre a conturbada história moderna da Colômbia, enquanto revisita sua vida e obra: a infância, a afinidade precoce com o cinema, a temporada nos Estados Unidos, o retorno ao país natal e a fundação do Grupo de Cali, ao lado de Carlos Mayolo e Andrés Caicedo.
"Há uma liberdade considerável a se aplicar à palavra 'real' a fim de salvá-la de rótulos, de tirar dela uma conexão plena com o documentário que a estrangule. Esse status documental do realismo cinematográfico é uma falácia que surgiu desde os primórdios do cinema, quando grandes realizadores como Dziga Vertov equipararam o documentário à uma noção hoje já questionada de 'verdade'. Vários de meus documentários questionam o próprio documentário", disse Ospina ao Correio da Manhã em 2017, em Madri, na entrega do prêmio Platino. "Comecei a fazer filmes na década de 1970, quando surgiram várias teorias da esquerda sobre o cinema que deveria ser feito na América Latina, a maioria das quais, como o Terceiro Cinema dos diretores Solanas e Getino, opunha o documentário à ficção. Conciliações vieram com o tema".
Esta noite, no fim da Mostra, serão conhecidos os filmes nacionais e estrangeiros premiados pelo júri oficial do evento.