Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

'Levante' sem cortes

Levante | Foto: Divulgação

Ímã de prêmios por onde quer que passe, abrindo um debate sobre o direito de uma jovem sobre o destino de seu próprio corpo, "Levante", de Lillah Halla, conquistou sete troféus, entre eles o de Melhor Filme, no encerramento do Fest Aruanda, na quarta-feira, em João Pessoa (PB). Exibido na Semana da Crítica de Cannes, em maio, quando ganhou o Prêmio da Crítica da Federação Internacional de Imprensa Cinematográfica (Fipresci), o longa-metragem deixou a Paraíba com as láureas de Melhor Atriz (Ayomi Domenica), Atriz Coadjuvante (Loro Bardot), Roteiro (de Lillah e Maria Elena Morán), Som (Waldir Xavier) e Figurino (Nicole Davrieux). Foi agraciado ainda com o prêmio da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine).

Apoiado no desempenho de Ayomi e de um elenco harmonicamente integrado, Lillah constrói uma trama sobre os dilemas morais mais medievais do país, dissecados a partir do processo de uma jogadora de vôlei que engravida sem desejar e opta por abortar, encarando resistências - algumas bem fundamentalistas) por isso. "É um filme que nasceu de uma estratégia coletiva, absorvendo tudo o que aconteceu no Brasil no período em que o roteiro foi desenvolvido. Nele, fomos gerando imagens de um futuro possível", disse Lillah ao Correio em Cannes.

Centrado nos dilemas da periferia carioca, "Ana", segundo longa-metragem de ficção do diretor teatral e cineasta Marcus Vinícius Faustini (Secretário de Cultura do Rio de 2021 até janeiro), é o filme a quem Aruanda confiou seu Prêmio Especial do Júri. Ganhou ainda o troféu de Melhor Ator Coadjuvante, dado a Gustavo Luz. Ele interpreta um estudante de Teatro que sonha fazer um show drag e é ajudado pela irmã, a Ana do título, vivida por Priscila Lima, que brilhou nas telas do Manaíra Shopping, centro nervoso do evento. "Citrotoxic", que também se destacou lá pela excelência de sua estrela (Bianca Joy Porte), rendeu à sua diretora, Julia Zakia, o merecido prêmio de Melhor fotografia. A luz estonteante de Zakia desenha a saga de uma comissária de bordo para cuidar da saúde respiratória de sua filha numa SP poluída.

Mais encantador de todos os concorrentes ao troféu de Melhor Longa-Metragem do Aruanda 2023, "Saudosa Maloca" recebeu quatro prêmios em reconhecimento à sua força estética, a começar pelo troféu de Melhor Direção, dado a Pedro Serrano. Ganhou ainda nas categorias Direção de Arte e Trilha Sonora, além de ter recompensado o cantor e compositor Paulo Miklos com a láurea de Melhor Ator, por seu desempenho como um dos principais cronistas musicais de São Paulo: Adoniran Barbosa (1910-1982). A produção forma um triunvirato autoralíssimo com dois outros belos trabalhos anteriores de Serrano: o curta "Dá Licença De Contar", de 2015, e o longa documental "Adoniran - Meu Nome É João Rubinato", de 2018.

Na trama de seu estonteante tratado sobre saudade, Serrano nos leva a uma mesa de bar de SP, onde o velho Adoniran (Miklos, sublime) conta a um jovem garçom (Sidney Santiago Kwanza) anedotas de uma metrópole que já não existe. Lembra com carinho da maloca onde viveu com Joca (Gustavo Machado) e Mato Grosso (Gero Camilo), destacando a paixão deles pela atendente de bar e aspirante a estilista Iracema (Leilah Moreno.

Dois .docs deixam Aruanda laureados, na competição oficial: "Othelo, o Grande" conquistou o troféu de Melhor Montagem, e "Peréio, Eu Te Odeio" recebeu o prêmio de júri popular.

 

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