Ao conquistar a láurea de Melhor Filme no Festival de Thessaloniki, na Grécia, com "Softie" ("Petite Nature"), que iniciou sua carreira na Semana da Crítica de Cannes, em 2021, o ator Samuel Theis se consagra como promessa da direção no atual sistema de produção da França nas telas.
O filme, já em cartaz no país, evoca o François Truffaut de "Os Incompreendidos" (1959) em sua mirada sobre os dilemas de aceitação de uma criança às vésperas de chegar à adolescência. Aliocha Reinert, seu protagonista, também foi premiado no evento grego. Ele vive Johnny, um rapazinho de dez anos que só se interessa por histórias adultas e parece ser mais maduro do que é, a julgar pelas cacetadas levadas da vida. Radicado com a mãe numa habitação social em Lorraine, ele observa a vida sentimental agitada das pessoas que o cercam. No colégio, a convivência com o Sr. Adamski, um professor novato e idealista, vai mudar o dia a dia do rapaz e despertar sentimentos difíceis de serem contidos.
Antes de "Softie", Theis trabalhou com Claire Burger e Marie Amachoukeli no aclamado "Party Girl", de 2014. Em sua luta para se firmar como astro, ele atuou na badalada série "Dix Pour Cent" e no cult "A Princesa de Montpensier", concorrente da Croisette em 2010. Integrou ainda o elenco do misto de drama e thriller judicial agraciado com a Palma de Ouro deste ano, em Cannes: "Anatomia de uma Queda", cotadíssimo para o Oscar. Na entrevista a seguir, ele fala ao Correio da Manhã sobre a dinâmica criativa de seu trabalho com Aliocha.
Como foi o processo de direção de seu protagonista em 'Softie'?
Samuel Theis: Aliocha pratica dança desde os cinco anos, o que dá a ele muita segurança. Apesar de seu aspecto andrógino sugerir fragilidade, no olhar de parte da sociedade, ele é um rapaz forte, que encara uma trama sobre emancipação diante de um mundo adulto. É curioso que quando pensamos em crianças, há uma tendência em pensarmos em indivíduos que não têm direito à fala no ambiente social. Mas, neste caso, vemos um garoto que busca sua liberdade. Estamos falando de alguém que ainda não tem experiência suficiente para impor limites.
Por que transformações ele passa na relação com um tutor como o professor Adamski, vivido por Antoine Reinartz?
Nesse filme, a educação funciona como uma ponte para que algo se transforme numa realidade de dificuldades financeiras, na qual os personagens são retratados para além de questões sociais, vistos sob o prisma de seus conflitos existenciais. Adamski é tocado pelo espírito de Johnny e enxerga seu potencial num ambiente de imobilismo.
A direção de fotografia de Jacques Girault impressiona pelo uso de cores que tempera com uma dose suavidade um ambiente áspero. Como esse colorido foi estruturado?
Existe uma dimensão metafísica nessa narrativa. É uma história sobre amor. O amor é algo que nos eleva. O ponto é que toda a reflexão imagética sobre onde se posiciona a câmera no quadro fílmico é estruturado a partir de adultos, não de crianças. A questão da cor aqui dependia do olhar de um menino que está compreendendo a relação de sua mãe com o sexo, descobrindo o mundo, descobrindo sua sexualidade.
Que lugar um filme como esse ocupa no cinema francês de hoje?
Existem muitos rótulos, sobretudo quando se fala de uma história de tons mais sociais. O marketing que etiqueta esse tipo de abordagem é sempre ligado à representação da pobreza, da superação das dificuldades econômicas. Eu tentei ir além.
Como você vê o sucesso da diretora Justine Triet após a Palma de Ouro dada ao longa "Anatomia De Uma Queda", um sucesso de bilheteria que pode chegar ao Oscar?
Justine é uma colega muito querida e eu fico muito feliz por ver o quanto esse filme, de que participei sob a direção dela, vem sendo acolhido. Fizemos sequências fortes nas cenas de tribunal. É uma alegria ver ele ser bem recebido.