Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

A outra face deum mestre

Jonh Woo | Foto: Divulgação

 

Mobilizando fãs de filmes de ação nas salas do subúrbio carioca, da Barra, de shoppings da Zona Sul e do Estação NET Gávea, "O Silêncio da Vingança" ("Silent Night") lembra clássicos do "Domingo Maior" com Charles Bronson, mas tem uma contemporaneidade virulenta em seu olhar sobre a xenofobia e o boom desenfreado das drogas, ao mesmo tempo que surpreende por sua elegância narrativa.

Joel Kinnaman, ator sueco que foi o RoboCop de José Padilha, há nove anos, protagoniza uma aeróbica que desafia leis da Física no papel de um eletricista em cruzada de revanche contra os assassinos de seu filho. O balé que enche as telonas do Rio - e de vários cantos do planeta, numa estreia mundial - é mérito de um artesão da adrenalina que, em tempos anteriores à franquia "John Wick" (2014-2023) revolucionou a forma de se rodar thrillers: o chinês John Woo.

Aos 77 anos, o realizador do mítico "A Outra Face" (1997), hoje na grade do Star , volta ao circuito após um hiato iniciado em 2017, com o fracasso de "Manhunt". Seu regresso rende ao cinemão um dos longas de maior ousadia estética do ano. "O cinema me apresentou o sonho e me fez desafiar limites", disse Woo ao Correio da Manhã numa entrevista de 2018, quando foi homenageado numa mostra de longas de Hong Kong no CCBB.

"Aprendi a sonhar com o cinema, com o teatro e com a Igreja. Os três me fizeram voar por outros limites. Eu era menino na China, vindo de uma realidade pobre, onde a arte era a saída para se vislumbrar alguma transcendência. Aprendi a filmar a partir das coreografias dos musicais que vi quando garoto. Inclua aí ainda as coreografias das lutas de espada dos filmes de espadachim de Hong Kong dos anos 1960. Esse encanto me leva a querer trabalhar em diferentes culturas".

À época da conversa, ele estava cotado para dirigir Lupita Nyong'o num remake de um de seus maiores sucessos, "O Matador" (1989), com Chow Yun-Fat. Na trama original, um assassino de aluguel precisa aceitar um contrato de risco a fim de obter o dinheiro necessário para custear o tratamento de uma jovem cantora cega, cuja deficiência visual é decorrente de um erro dele, durante uma missão. Naquele filme, o cinema conheceu sequências de tiroteiro em câmera lenta que marcam época e consagraram a estética de Woo, dando um status de autor à sua carreira, iniciada há 55 anos. Ele viveu dias de sucesso na Ásia, com produções como "Alvo Duplo" (1986) e "Fervura Máxima" (1992).

"Minha lógica de mundo é inspirada no ideal dos romances de cavalaria e pelo olhar dos grandes diretores de Hong Kong do passado", disse Woo. "Gosto de inverter certezas".

 

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