Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

'Tá escrito': Matheus Souza é a maior diversão

Matheus Souza chega à maturidade como realizador com 'Tá Escrito' | Foto: Divulgação

 

Responsável pela carta de intenções da geração Ctrl Alt Del do início dos anos 2000 (agora chamada Geração Millennial), expressa na forma do filme "Apenas o Fim" (2008), Matheus Souza virou uma espécie de Ferris Bueller no coletivo de cineastas autorais na ativa. A alusão ao personagem icônico de Matthew Broderick vem pelo fato de ele fazer de uma juventude que curte a vida adoidado (ou quase) seu foco. Seu novo longa-metragem, "Tá Escrito", segue essa linha, assumindo como sua protagonista uma das estrelas mais populares do país: Larissa Manoela. Assolada por polêmicas este ano, por conta de questões familiares, ela conduz um realizador acostumado a crônicas de costume geracionais pelas veredas da fantasia. Alice, sua personagem, é uma astrônoma que vê o mundo a seu redor virar um País das Maravilhas após ganhar um livro mágico capaz de alterar a realidade à força do Zodíaco.

"Acima de tudo, eu sou um cara tentando evoluir e explorar o máximo de possibilidades de cinema que me for permitido", explica Matheus. "Eu tenho tido muita vontade de sair da minha zona de conforto do 'filme de diálogo' e das dramédias, para flertar com outros gêneros. Estou escrevendo um filme de terror agora, e, no 'Tá Escrito', consegui misturar minha comédia tradicional e meu estilo de diálogos com fantasia".

Cinefilia pop sempre foi um dos pontos fortes do diretor, que, em 2012, deslumbrou o Festival de Gramado "Eu Não Faço a Menor Ideia do Que Eu Tô Fazendo Com a Minha Vida" e bateu ponto em roteiros de sucessos como "Eduardo e Mônica" (2021).

"Eu sempre fui fã de filmes que misturam magia com dramas humanos identificáveis, de 'Feitiço do Tempo' a 'Palm Springs', passando por 'Todo Poderoso'. Além do universo mágico, o longa 'Tá Escrito' tem algumas sequências de ação, que é mais um gênero com o qual sonho em trabalhar em um futuro breve. Tem também sequências com efeitos especiais. Tudo isso é muito novo pra mim, mas muito prazeroso. Por muito tempo, eu senti que nunca seria capaz de dirigir algo além de 'pessoas conversando'. No 'Tá Escrito', eu decidi me arriscar um pouco e nunca me diverti tanto em um set. Nas pré-estreias me bateu um certo pânico de como esse risco seria recebido pelo público, mas a recepção foi ótima. Enfim, sigo ansioso para testar cada vez mais novos gêneros sem nunca perder a minha cara".

Apoiado na direção de fotografia de Lícia Arosteguy, "Tá Escrito" apresenta Alice ao público no momento mais baixo de sua autoestima. Ela mora com a mãe (Karine Teles) e com o irmão (Kevin Vechiatto), que faz de tudo para atazanar sua vida. Seu sonho é conquistar o primeiro emprego e ir morar com o namorado (André Luiz Frambach). Mas seus planos vão por água abaixo quando ele termina o relacionamento com a moça para se dedicar à carreira. Em fase de derrota convulsiva, ela recebe um livro mágico que promete tornar realidade qualquer previsão astrológica escrita em suas páginas sem pautas. Com o poder de influenciar a todos, Alice se torna um fenômeno online, mas também deixa o mundo ao seu redor de cabeça para baixo. Bagunça até o coração de um dublê de empresário que almeja transformá-la em celebridade, Pedro, encarnado por um flamejante Victor Lamoglia. Todo serelepe em cena, ele é o sol que ilumina o estudo de Matheus sobre o limite que transforma um abraço em abrigo. Um estudo roteirizado pelo cineasta com Thuany Parente e Mariana Zatz.

'Eu comecei no cinema muito novo, escrevendo sobre minha própria geração, a millennial, de uma forma mais natural. Hoje já preciso me manter atualizado, sempre estudando os mais jovens, para conseguir escrever algo identificável para a chamada Gen Z. De qualquer forma, acho muito enriquecedor buscar entender e representar novas gerações", diz Matheus. "Todos os meus filmes têm dois temas em comum: conexão e comunicação. Falo de pessoas querendo ou precisando se conectar com as outras. Mostro como elas precisam superar falhas de comunicação para alcançar o objetivo. Daí vem também minha mania de explorar e retratar o mundo das relações humanas através das redes sociais, que acaba dando um ar jovem para meus filmes. Difícil falar sobre comunicação/conexão sem levar em conta como as redes sociais - e cada rede nova criada - afetam esses temas".

Em sua direção mais madura, ele arranca de Larisa uma atuação que conversa com figuras icônicas das comédias juvenis hollywoodianas. "A Lari é um desses talentos que vira um gênero próprio, como 'um filme da Julia Roberts' ou 'um filme do Adam Sandler' ou 'um filme do Jim Carrey'. Independentemente do que se pense da cinematografia de qualquer um desses astros, há que se admitir que são talentos especiais. Poucos chegam nesse nível. Poucos conseguem gerar tanta identificação com o público", avalia o cineasta. "Além de brincar com o gênero da fantasia, aqui em 'Tá escrito' também explorei o gênero 'filme da Larissa Manoela'. Meu desafio era pensar como fazer o meu 'filme de Larissa Manoela'. O primeiro passo é tentar brincar com os clichês do gênero sem deixar o filme genérico. Misturar nossos estilos. O segundo, que sempre faço com minhas protagonistas, é estudar a persona delas. Entender o timing cômico, expressões, sorrisos, manias da Larissa. Elevar eles ao máximo e salpicar ao longo do filme, onde cada trejeito se encaixaria melhor de acordo com o roteiro. Foram muitos ensaios com uma dedicação exemplar por parte dela e fico muito grato pela confiança que ela depositou em mim".

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.