Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Rosane Svartman aborda doença terminal de forma tragicômica no filme 'Câncer com ascendente em Virgem'

Rosane diz gostar de falar com adolescentes | Foto: Divulgação

Responsável por um dos maiores fenômenos da teledramaturgia brasileira nesta década (o folhetim das sete da TV Globo "Vai na Fé"), a cineasta e novelista Rosane Svartman está de volta aos sets de filmagem, para narrar uma saga de resiliência nas raias da finitude. De certa forma, o tema da luta pela vida já fazia notar em seu filme anterior, "Pluft, o Fantasminha", de 2022. Mas o assunto ali era tratado pelas vias lúdicas da fantasia, inspirada por um marco do teatro infanto-juvenil. Em "Câncer com Ascendente em Vigem", que ela roda no Rio, tendo a atriz e também roteirista Suzana Pires como protagonista, o fantástico dá lugar à dramédia. A atual experiência da realizadora de "Como Ser Solteiro" (1998) é baseada na peleja inspiradora da produtora do filme, Clélia Bessa, para derrotar uma ameaça à sua saúde, hoje curada.

Durante o tratamento que a curou de um câncer de mama em 2008, Clélia lançou um blog que se notabilizou por seu tom de desabafo. Chamava-se "Estou com Câncer, e Daí?". A partir dele, Rosane estruturou a narrativa que promete emocionar o cinema brasileiro e arrancar de Suzana o que pode ser "A" atuação de sua carreira, o que significa muita coisa quando se lembra da brilhante interpretação dela em "Casa Grande" (2014) e seu divertido show de humor em "Loucas Pra Casar", sucesso de 2015.

Na trama filmada por Rosane, a protagonista é Clara, uma professora de matemática que faz o maior sucesso como influencer educacional em seu canal na internet. Sarcástica, por vezes debochada, ela gosta de manter tudo sob controle, mas vai precisar aprender a lidar com a vulnerabilidade quando descobre que tem câncer de mama. Com coragem e resiliência, ela enfrenta dias ruins e outros melhores ao lado da família e de amigas leais, sobretudo sua mãe, Leda, vivida por Marieta Severo. Enquanto luta pela cura, Clara tem a chance de celebrar a vida e de ressignificar seus relacionamentos.

No bate-papo a seguir, Rosane explica sua imersão numa dramaturgia de sobrevivência.

De que maneira a luta real pela qual a produtora Clélia Bessa passou orienta e gênese e a evolução desse seu roteiro? O quão universal é a história dela e o quanto desse universal se transfere para a Clara?

Rosane Svartman: A inspiração do blog real da Clélia, além da história em si, orienta principalmente o tom do filme. A história em vários momentos se afasta e se aproxima da situação original, englobando outras experiências que surgiram no processo de pesquisa e criação, mas o tom, emocionante e dramático - ou, por vezes, até engraçado -, orienta o gênero que o filme assume: a dramédia. É um gênero que acredito que espelha nossa vida - com momentos de tristeza, alegria e superação. Somos protagonistas de nossas histórias, que têm tudo isso.

De que maneira a saga de Clara contra o câncer, em prol da vida, permite que o filme converse com o drama, o melodrama e até o humor? Como o filme se posiciona em relação aos conflitos da personagem?

A vida de Clara ganha tintas mais fortes quando ela se vê diante do inevitável, da doença. Ela passa a olhar pra vida de outra forma e isso faz com que a narrativa possa trazer todos esses ingredientes, realmente. Então diante da possibilidade de morrer ela passa a valorizar cada momento. Como diz Ana Cláudia Quintana Arantes, "morte não é o contrário de vida, morte é o contrário de nascimento". Olhar a vida de forma mais atenta, carinhosa, com assombro e encantamento, faz parte desse processo de Clara.

Sua obra no cinema é marcada por diálogos com a juventude e com a infância, à exceção de "Mais Uma Vez Amor", que trilha uma rota pela comédia romântica clássica. O quanto desse novo olhar é desafiador? Que novo universo - se é que é mesmo novo - dá corpo a "Câncer Com Ascendente em Virgem"?

Acho que encontrar o tom certo no roteiro, na decupagem, na atuação, foi o grande desafio para mim como diretora neste processo. A proximidade com a Clélia - uma vez que eu vivi parte dessa história com ela - me ajuda a achar esse tom, que resgato nas minhas vivências e memórias, além de leituras, conversas. Além disso, pra mim, o importante é contar a história da melhor forma possível, usando as ferramentas do meu repertório cinematográfico e contar com o talento de quem constrói esse universo comigo. Isso todos os filmes têm em comum, mesmo que as estratégias sejam diferentes. Em qualquer filme o que busco é sempre isso: a melhor forma de ajudar o público a mergulhar na obra.

Qual (e como) é a troca com a atriz Susana Pires no set, uma vez que ela é uma voz criativa também na dramaturgia, no roteiro?

A parceria com Suzana é um dos pilares desse filme. A entrega dela como atriz impressiona e o olhar dela lá no início, a disposição e empenho em mergulhar no blog pra escrever o roteiro (com Martha Mendonça e Pedro Renato) também.

 

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