Juntos e misturados na maluquez de Herzog
Caixa Cultural remora feitos do diretor de 'Fitzcarraldo', que explorou geografias onde poucos cineastas ousaram pisar para explorar a força da Natureza e os limites da loucura
Fã de Eddie Murphy, que o fez rir como ninguém, entusiasta da obra de Ruy Guerra, a quem dirigiu um par de vezes, e movido pelo desejo de desfiar ilusões da moral, o alemão Werner Herzog diz que gasta mais tempo lendo poemas - mesmo os da antiguidade grega - do que vendo filmes.
Porém, desde 1961, quando começou a produção do curta-metragem "Herakles" (finalizado no ano seguinte, marcando sua estreia como realizador), é por meio de filmes que suas inquietações ganharam o mundo, arrebatam a crítica, colecionaram fãs e lhe renderam um oceano de honrarias.
Uma das mais importantes é a Carroça de Ouro, honraria concedida pela Quinzena de Cineastas do Festival de Cannes a artesões da imagem com status de mestre. O status desse diretor germânico de 81 anos, que também é professor, escritor (lançou há pouco o fascinante "O Crepúsculo do Mundo", pela Editora Todavia) e ator (é o vilão da série "O Mandaloriano", da Disney ), poderá ser visto, revisto e aplaudido pelo público carioca numa mostra na Caixa Cultural que abre suas portas para o público nesta quarta-feira.
"Existe a ordem racional e existe a natureza. O cinema é algo que interponho entre esses dois extremos", disse Herzog ao Correio da Manhã em Cannes, em 2019, numa palestra ao lado da atriz Julianne Moore e do diretor e ator Xavier Dolan. "Existe um mundo lá fora, sem regras da moral, distante dos dispositivos do processo artístico, onde as pessoas vivem em ambientes muito diferentes do que qualquer contingência da razão possa definir. Eu saio a campo, com a câmera na mão, em busca dessas práticas de viver, a fim de conhecê-las, mas não de dominá-las. Faço cinema desde o tempo em que só festivais absorviam práticas como essa. Hoje, há mais diversidade, mas o risco ainda instiga".