Mia Goth, a diva que espanta, se firma como estrela do cinema fantástico
Neta de Maria Gladys arrebata o streaming com 'Infinity Pool', sob a direção do filho de David Cronenberg
Sensação do Festival de Sundance, em janeiro, e alvo de rebuliço na Berlinale, em fevereiro, "Piscina Infinita" ("Infinite Pool") expandiu os horizontes do cinema de horror em 2023, mas, no Brasil, acabou diretamente no streaming, na rede Telecine (onde está se tornando cult) e na Amazon Prime. Um dos principais motivos para o séquito de entusiastas que o longa-metragem forma é a presença da atriz Mia Goth. Ela é neta da atriz brasileira Maria Gladys.
Mas não é sua origem familiar que justifica o impacto que sua presença em cena gera. Aos 30 anos, ela virou a atual diva do terror indie nos EUA - e fora dele. "Não busco uma preparação padronizada e fujo de psicologismos que engessem o processo de criação, por crer que a construção dos personagens nasce no set. O que vem se passando é o fato de seu estar sempre sendo bem dirigida. Confio no que Brandon me apresenta. Se ele me viesse com uma proposta de gênero distinta, eu aceitaria, por vir dele", disse Mia ao Correio da Manhã, diante de uma Berlinale em rebuliço diante de sua presença.
Em 2022, um par de thrillers - "Pearl" e "X", de Ti West - fizeram com que ela passasse a ser adorada pela combinação rara de uma vozinha miada com expressões diabólicas de arrepiar espinhas. "Eu gosto de papéis que me desafiam", disse Mia, que iniciou sua carreira como atriz filmando "Ninfomaníaca" (2013) com Lars von Trier, antes de passar pelas vozes autorais da francesa Claire Denis (em "High Life") e do italiano Luca Guadagnino (no remake de "Suspiria").
Quando a mimosa protagonista de "Pearl" - atualmente também em destaque na plataforma digital Telecine - oferece um ganso morto a seu bichinho de estimação, um crocodilo, percebe-se nela a marca de uma maldade que se avizinha à loucura. É algo bastante parecido com o que a Berlinale viu em "Piscina Infinita". Dirigido por Brandon Cronenberg, filho do realizador de "A Mosca" (1986), o longa agitou a capital alemã mais do que os títulos em concurso pelo Urso de Ouro. A trama foi rodada na Croácia, mas se passa num resort na ilha La Tolqa, um país fictício.
Em seu enredo, um escritor fracassado, James Foster (Alexander Skarsgård), viaja de férias com a esposa rica, chamada Em (Cleopatra Coleman), para a América do Sul, atrás de inspiração para um novo trabalho. Em meio a um paraíso para endinheirados com tédio, ele conhece Gabi Bauer (Mia), uma fã de sua literatura, que seduz Jack para um passeio fora da propriedade. No local, após um acidente, Jack descobre uma prática bastante indigesta: o local é um espaço de testes para clonagem humana. Mas os clones são vítimas de violência, submetidos a torturas. Mas as versões paralelas de turistas como Jack vão reagir à brutalidade. É aí que Gabi ganha mais protagonismo, deixando Mia brilhar em cena.
"Não é consciente o processo de preparação. Nasce da ação", diz Mia, que mandou um simpático "Oi!", em português pra Berlinale ouvir, ao ver brasileiros no auditório do festival.
Este ano, Mia estrela o terceiro tomo da trilogia de Ti West, aberta em "X", ao retratar o mundo do cinema pornô por trás das câmeras, com uma psicopata. Chama-se "MaXXine".