Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

A micareta cinéfila de Emir Kusturica

Emir Kusturica: 'A inércia do mundo em relação à História é algo que me assusta' | Foto: Divulgação

Longe das telas desde 2018, quando lançou um documentário sobre o líder uruguaio Pepe Mujica, o realizador sérvio Emir Kusturica desenvolveu o costume de abrir cada ano com sua agenda lota de atividades - todas ligadas a uma espécie de micareta audiovisual. Ele criou um evento muito particular em sua pátria, na região de Mokra Gora: o Küstendorf International Film and Music Festival.

Serão anunciadas ao longo desta semana as atrações musicais e cinematográficas da edição número 17 dessa mistura de mostra de filmes com shows e debates sobre artes. Matteo Garrone, cineasta laureado no último Festival de Veneza por "Io, Capitano" ("Eu, Capitão"), é um dos convidados de honra.

Grife autoral no cinema independente, Kusturica é músico, integrando a banda The No Smoking Orchestra. Como diretor, foi condecorado com duas Palmas de Ouro de Cannes, dadas a ele por "Quando Papai Saiu Em Viagem De Negócios" (1985) e por "Underground - Mentiras de Guerra" (1995).

"O cinema das Américas foi fundamental para a construção do meu olhar, uma vez que a minha cabeça foi muito influenciada pela Nova Hollywood, num período dos anos 1970 em que filmes inquietos davam bilheteria, sem fazer concessões para agradar. 'Taxi Driver' revelou muito para a minha geração sobre as possibilidades das narrativas. Mas a minha cabeça também foi influenciada pela vodca", confessou o cineasta ao Correio da Manhã, ao lançar seu documentário sobre o carismático líder político uruguaio antes da pandemia.

Em 2008, ele citou o futebol brasileiro, mas de maneira jocosa, no documentário "Maradona por Kusturica", lançado no Festival de Cannes com enorme sucesso. "Aquele argentino deu ao esporte alguns dos dribles mais bonitos que o mundo jamais viu", disse o cineasta, que esteve ao lado de Bárbara Paz há uma década no lançamento do longa em episódios "Words With Gods", no qual divide os créditos com Hector Babenco (1946-2016). "Cada filme que faço deve ser uma resposta ao mundo ao meu redor".

Famoso por filmes como "Gato Preto, Gato Branco" (1998), pelo qual ele recebeu o prêmio de melhor direção em Veneza, ele tocou na Marina da Glória em 2017, no Mimo Festival.

"A inércia do mundo, em relação à História, é algo que me assusta, mas a arte a desafia", disse o diretor, que encantou o Festival de Veneza, em 2017, com "Na Via Láctea", sua última ficção até agora.

 

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