Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Estação Sganzerla

Sganzerla, símbolo da experimentação no audiovisual brasileiro | Foto: Ivan Cardoso/Divulgação

No dia 9 de janeiro de 2004, 20 anos atrás, o Brasil se despedia de uma das mais radicais expressões de liberdade na cultura: Rogério Sganzerla (1946-2004). O realizador de "O Bandido da Luz Vermelha" (1968) morreu há duas décadas deixando um legado de experimentações pop, antropofágicas, tropicalistas. As lavas desse vulcão audiovisual voltam à erupção hoje em uma sessão em tributo ao cineasta catarinense (de Joaçaba) no Estação NET Rio, às 21h.

Vai rolar uma sessão de "A Alegria É a Prova dos Nove", longa magistral da companheira de vida e de obra de Sganzerla: Helena Ignez.

Uma das mais aclamadas realizadoras e atrizes do país, cultuada por sua presença no elenco de cults de Rogério, Helena regressa à telona com um memorial construído com foco numa viagem, feita nos anos 1970, ao Marrocos. Foram nessa jornada sensorial a sexóloga e roqueira Jarda Ícone (vivida pela própria Ignez) e o defensor dos direitos humanos Lírio Terron (papel de Ney Matogrosso). Algo do passado dessa dupla segue até hoje.

Após a projeção, vai rolar um bate-papo em que Helena dá uma mapeada na relevância de Sganzerla para a contracultura dos anos 1960. "Rogério é um pensador profundo. Ele usa o humor como um elemento fortíssimo na filmografia dele, um elemento da profundidade", disse Helena ao Correio da Manhã quando o cineasta foi homenageado na Suíça, no festival de Locarno, em agosto.

Na ocasião, o crítico Giona A. Nazzaro, atual curador de Locarno, reservou espaço nobre em sua mostra retrospectiva de clássicos e cults essenciais a qualquer cinéfilo para homenagear o realizador. Ele exibiu o curta-metragem "Documentário" (1966) e o longa "Abismu", também chamado "O Abismo", de 1977. Essas projeções foram embaladas numa declaração (de guerra) de Nazzaro: "Se Sganzerla tivesse nascido na França, ou na Itália, ele seria reverenciado como um gigante entre os realizadores de seu tempo".

Godardiano até a alma, "Abismu" aposta numa constelação de mitos (Norma Bengell; José Mojica Marins; Wilson Grey; e Jorge Loredo, o Zé Bonitinho) ao narrar uma trama sobre manuscritos perdidos e civilizações ancestrais.

 

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