Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Emissários do Velho Mundo

Mal Viver | Foto: Divulgação


Laureado com o Globo de Melhor Atriz Coadjuvante (Da'Vine Joy Randolph) e de Melhor Ator de Comédia (Paul Giamatti), "Os Rejeitados", de Alexander Payne, estreia neste fim de semana no Brasil com a certeza de contagiar nossas salas com um humor agridoce, que o diretor de "Sideways" aprendeu assistindo ao cinema autoral europeu, os italianos sobretudo. Em tempo de Oscar, quando o circuito abraça potenciais concorrentes à estatueta da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, a Europa invade nosso circuito com uma fornada das mais quentes de expressões estéticas.

A mais esperada é "Anatomia de uma Queda", de Justine Triet, que conquistou a Palma de Ouro de Cannes, em maio. No domingo, esse drama jurídico sobre uma escritora (a alemã Sandra Hüller) acusada da morte do marido, recebeu o Globo dourado de Melhor Filme de Língua Não Inglesa e o de Melhor Roteiro. Justine faz parte de uma leva de estandartes da autoralidade de um continente poliglota.

Confira uma lista de pérolas europeias que estão por vir.

MAL VIVER, de João Canijo (Portugal): Um merecidíssimo Prêmio do Júri na Berlinale deste ano há de trazer novos holofotes para um dos mais potentes artesões autorais lusos. Sua arena aqui é um hotel, que nos é apresentado pela perspectiva de suas donas e de suas funcionárias, com destaque para a atuação de Rita Blanco e Anabela Moreira. Um diálogo sobre o interesse de uma jovem em nadar, eletrificado por memórias de suas peraltices d'outrora (um beijinho num coleguinha de piscina), expõe o quão sutil é a carpintaria de escrita de Canijo, interessado em miudezas. São miudezas jamais cicatrizadas que, com o tempo, rasgam-se em feridas existenciais largas demais. A fotografia de Leonor Teles encapa as palavras do cineasta com uma luz austera. Estreia dia 18.

MEU AMIGO ROBÔ ("Robot Dreams"), de Pablo Berger (Espanha): Ímã de lágrimas em Cannes, esta animação do realizador de "Blancanieves" se encontra nas estações do ano em que o cão de vida vazia inspirado em Hoffman quebra sua inércia emocional depois de comprar um robô (dotado de inteligência artificial) para ser seu companheiro de dia a dia. A trilha sonora, com direito a "September", do Earth Wind & Fire embala a construção do relacionamento deles. Tem pré-estreia na quarta, dia 17, aberta ao público no Estação Rio.

AS BESTAS, de Rodrigo Sorogoyen (Espanha): Foi uma sensação do último Festival Varilux, endossada pela conquista de nove Goyas (o Oscar ibérico). Na trama, um casal francês, Olga e Antoine (Marina Foïs e Denis Ménochet), muda-se para uma vila no interior da Galícia, buscando proximidade com a natureza. Eles levam uma vida sossegada, plantam vegetais e recuperam casas abandonadas, mas não têm uma boa relação com os outros habitantes. Após rejeitar um projeto de energia elétrica eólica, dois irmãos da vizinhança se desentendem e levam a situação ao limite. Estreia no dia 25.

O SABOR DA VIDA ("La Passion De Dodin Buffant"), de Tran Anh Hùng (França): Foi merecidíssimo o prêmio de Melhor Direção dado por Cannes ao realizador vietnamita responsável pelo aclamado "O Cheiro da Papaia Verde" (1993). Um diretor que estava há uns sete anos sumido do cinema. Ele regressa reunindo um ex-casal que se amou muito fora das telas - Juliette Binoche e Benoît Magimel - para encarnar um quase casal que se adora apaixonadamente na telona, mas que não se casa para não se dobrar aos ditames morais da França do século XIX. Dodin (Magimel, sublime) é um gourmet com alta respeitabilidade na rica burguesia francesa, sendo bem tratado até por nobres, em função dos banquetes que oferece. É Eugenie (Juliette) quem cozinha os quitutes. Mas quando ela fica doente, ele resolve cozinhar para sua amada. É um tratado comovente sobre o benquerer. Estreia no dia 1° de fevereiro.

ERVAS SECAS ("Kuru Otlar Üstüne"), de Nuri Bilge Ceylan (Turquia): Mesmo na fronteira com a Ásia, a cultura turca tem um peso determinante entre os europeus, sobretudo na crítica do Velho Continente. É lá que Ceylan faz um dos cinemas mais possantes da atualidade, coroado com a Palma de Ouro de 2014 por "Sono de Inverno". Em seu novo filme, o professor de arte Samet (Deniz Celiloglu) está terminando o quarto ano de serviço obrigatório em um vilarejo remoto na Anatólia. Ao ser acusado de ter tido conduta inadequada estraçalha seu sonho de partir de Istambul e fugir dessa vida sombria desaparecem. Até que o encontro com a professora Nuray (Merve Dizdar) apresenta a Samet novas perspectivas. Merve ganhou o prêmio de Melhor Atriz em Cannes.

 

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