Por: CRÍTICA FILME - VIDAS PASSADAS:

CRÍTICA FILME - PRÍNCIPE LU E A LENDA DO DRAGÃO: 'Game of Thrones' do Brasil

O Youtuber Luccas Neto e o eterno trapalhão Renato Aragão em ação na aventura do Príncipe Lu | Foto: Divulgação

Ausente das telas desde o musical "Os Saltimbancos Trapalhões Rumo a Hollywood" (2017), Renato Aragão encontrou um caminho muito inusitado - e divertidíssimo - para regressar às telas, de carona num convite do popstar da internet Luccas Neto para fazer uma participação afetiva em "Príncipe Lu e a Lenda do Dragão".

Seu personagem, o Mestre dos Mestres, não é o bom e velho Didi, o Chaplin cearense que comoveu o país e ajudou o eterno trapalhão a levar 30 milhões de pagantes às telas. O guerreiro espadachim que tudo sabe sobe esgrima até tem um ou outro tique do Didi, mas é um personagem à parte, embora igualmente carismático. A presença de Aragão em cena, assim como a exuberante participação de Zezé Motta no papel da druida Feiticeira, endossa uma experiência audiovisual bastante atípica para o audiovisual brasileiro da atualidade. É uma fantasia, algo nos moldes de "Game of Thrones", ainda que de abordagem infanto-juvenil.

Evoca "Era Uma Vez..." (1995), de Arturo Uranga, e "O Cavaleiro Didi e a Princesa Lili" (2006), de Marcus Figueiredo - numa genealogia brasileira do filão - mas tem o faz sob a égide da linguagem dos youtubers.

Há uma sintonia fina com produções para crianças e pré-adolescentes do YouTube, como o canal "Maria Clara e JP", atração mirim de apelo mastodôntico.

Coautor do roteiro com Luccas e Paulo Halm (um dos escribas mais talentosos de nosso audiovisual, Leandro Neri assina a direção de "Príncipe Lu e a Lenda do Dragão" dando ao filme todos os elementos dessas atuais modalidades dramatúrgicas da internet, com tudo o que os vídeos dos bons youtubers têm. Há piadocas com as gírias da meninadas, há música e há um espírito cronista dos sentimentos que afloram (na gente) quando os ditames da infância começam a ir embora. Mas há também toda uma cartilha de códigos inerentes às tramas de aventuras capa & espada: combates de lâminas afiadas, magia, heroísmo. Ou seja, o acerto de Neri se faz em dupla via, com um adendo: poço de carisma, Luccas é uma espécie de Michael J. Fox nacional.

Bem amparado plasticamente nos figurinos de Constança Whitaker, Neri nos leva ao Reino de Lucebra, onde o brincalhão Príncipe Lu (Luccas) vive sem preocupações, pregando peças em seus familiares e amigos. Seu pai, o Rei (Maurício Mattar, exemplar em cena), e sua amorosa mãe, a Rainha (Flávia Monteiro), preocupam-se às pampas com o filho, pois, segundo reza a lenda, quando completar 18 anos, ele vai enfrentar o misterioso Dragão da Maldade. Nessa peleja, é dever dele salvar o povo da Terra Média. Apesar dessa profecia, Lu não acredita no perigo iminente e prefere "troslar" (fazer piadas com) sua irmã, a Princesa Encantada (Gi Alparone). Faz troça de todo mundo que trabalha no palácio, como o assustador Conde Drake (Cassio Scapin), a aia Lena (Beatriz Couto) e os guardas reais (Tadeu Mello e Pedro Truszko).

Mas depois que o Rei é abatido num (suposto) acidente, Lu é forçado a amadurecer e se tornar uma espécie de Conan (bárbaro famoso nas HQs e nas telas). O Mestre dos Mestres vai ajuda-lo nisso, assim como a Feiticeira. Nesse aprendizado, o belo trabalho dos roteiristas nos dá momentos hilários, como a viagem no tempo para um ensaio da Beija-Flor de Nilópolis.

 

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