Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

O bonde do tigre

Greice | Foto: Divulgação/IFFR

Criado em 1972 pelo curador Hubert Bals (1937-1988), o Festival de Roterdã, na Holanda, tem o papel de abrir as alas autorais do circuito de grandes festivais autorais do planeta que apostam na descoberta de títulos inéditos.

O festival da cidade portuária integra um grupo seleto, ao lado da Berlinale (que começa sua edição de número 74 no próximo dia 15) e dos festivais de Cannes, de Locarno, de Veneza, de Toronto e de San Sebastián, nas Espanha - tendo eventos americanos como Sundance, SXSW, Telluride e Tribeca correndo por fora.

Sua 53ª edição, que segue até o dia 4, joga seus holofotes sobre Brasil. São nove títulos brasileiros entre os selecionados, que estão distribuídos em diferentes seções. Na Competição Tigre de Ouro entrou "Praia Formosa", de Julia De Simone. Na Competição Big Screen, Marcelo Gomes (diretor premiado por "Cinema, Aspirinas e Urubus") envereda pelo universo literário do escritor amazonense Milton Hatoum com "Retrato de um Certo Oriente". Na Mostra Harbour, entraram "A Paixão Segundo G.H.", epifania de Luiz Fernando Carvalho; "Greice", de Leonardo Mouramateus; e "Levante", que rendeu à diretora Lillah Halla o Prêmio da Crítica de Cannes. Na seara do curta-metragem, entramos na Tiger Short Competition, com "Potenciais à Deriva", de Leonardo Pirondi, e na Short & Mid-length, com "O Silêncio Elementar", de Mariana de Melo; "Se Eu Tô Aqui é Por Mistério", de Clarissa Ribeiro; e "Um Tropeço em Cinco Movimentos", de Valentina Rosset. Por fim, na sessão Limelight, o cearense Karim Aïnouz exibe seu primeiro longa com astros de Hollywood: "Firebrand", indicado à Palma de Ouro de Cannes.

Continua na página seguinte

 

Destaques internacionais nas telonas holandesas

Steppenwolf | Foto: Divulgação/IFFR

Conheça a seguir os títulos estrangeiros que já se destacaram entre as sessões já realizadas na maratona cinéfila holandesa:

STEPPENWOLF, de Adilkhan Yerzhanov: Um thriller de ação padrão "John Wick", com CEP no Cazaquistão, ressalta a evolução do diretor de "A Doce Indiferença do Mundo" (2018), num desafio às leis da gravidade. Carregado de elementos da obra-prima "Rastros de ódio" (1956), o longa assume como seu John Wayne um criminoso que se faz passar por policial (papel do genial Berik Aitzhanov) que, em meio a uma guerra civil, ajuda uma mulher incapaz de falar (Anna Starchenko) a encontrar seu filho. A angústia dela é salvar o menino de traficantes de órgãos. Já ele só quer se aproveitar da situação para lucrar. Pelo menos até a consciência social derrubá-lo, numa rasteira ética. As sequências de tiroteio e de luta são de mesmerizar olhos.

THE BALLAD OF SUZANNE CÉSAIRE, de Madeleine Hunt-Ehrlich: Embalado numa trilha sonora de Sabine McCalla, esta produção americana faz de sua realizadora, uma estreante, uma baita promessa, por sua destreza em saltar no tempo, mesclando metalinguagem, memória e poesia surrealista. Zita Hanrot tem um desempenho primoroso no papel de uma estrela que decide enveredar pelo passado de uma escritora cheia de controvérsias. Viagens metafísicas aos anos 1940 injetam lirismo neste drama carregado de viço.

BANEL E ADAMA: AMOR OU TRADIÇÃO ("Banel et Adama): de Ramata-Toulaye Sy (Senegal): Existe uma notável ousadia nessa love story que vem da África, terra dos ancestrais de sua diretora, e ela vem de seu flerte com o realismo mágico. Há até uma revoada de aves que inundam o céu com o aviso funesto de uma tragédia. Khady Mane é Banel, jovem que se casa com Adama (Mamadou Diallo) em entender os interditos culturais de seu povo ligados ao benquerer. Com a percepção de que seu romance incomoda, ela gravita por veredas do risco.

ETERNAL, de Ulaa Salim: Um poético exercício escandinavo pelas veredas da ficção científica. Na trama, um terremoto gera uma fissura oceânica que afeta o balanço climático da Terra. Em meio a um colapso anunciado, um cientista e uma cantora vão se apaixonar. Mas o senso de dever do pesquisador ameaça a relação que ele ensaia construir.

TRILOGIA "DIABOLIK CHI SEI?", "DIABOLIK - GINKO ALL'ATTACCO!" E "O GRANDE DIABOLIK": Ao propor uma retrospectiva dos irmãos Marco e Antonio Manetti, expoentes do cinema pop da Itália, Roterdã concentrou-se na relação dos dois com as HQs, valorizando o anti-herói criado em 1962 pelas irmãs Giussani, Angela (1922 - 1987) e Luciana (1928 - 2001), ambas de Milão. Os três filmes narram as aventuras do assassino e ladrão mascarado que usa as mais criativas técnicas para roubar dos ricos (em especial, criminosos) e dar a... seus bolsos. Mais popular do que o Homem-Aranha nos quiosques da Europa, onde é best-seller há seis décadas, esse gatuno profissional já vendeu em torno de 150 milhões de cópias pelo mundo. Dois atores se revezam sob a máscara do personagem: Luca Marinelli (de "Martin Eden") e Giacomo Gianniotti (o Dr. Andrew DeLuca de "Grey's Anatomy").

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.