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Adam Sandler nas estrelas

Mais popular comediante de Hollywood desde 1998, Sandler pode fazer de 'O Astronauta' seu filme de virada | Foto: Divulgação

Por Rodrigo Fonseca

Especial para o Correio da Manhã

Preparando-se para iniciar mais uma edição - a de número 74 - na próxima quinta-feira, com o drama irlandês "Small Things Like These" na abertura, a Berlinale vai testemunhar um rito de reciclagem na persona do comediante Adam Sandler com a exibição da sci-fi "O Astronauta" ("Spaceman") no próximo dia 21. Convocado para dividir com George Clooney o protagonismo do novo longa de Noah Baunbach ("Jay Kelly", já rodado), o astro de 57 anos participa ainda da nova trama dos irmãos Josh e Benny Safdie, responsável por seu trabalho mais aclamado nos últimos 20 anos: "Joias Brutas" (2019). Mas tudo o que tem pela frente pode ganhar um novo colorido a julgar pela consagração que o drama estelar, com aura de ficção científica, possa ter no Festival de Berlim de 2024. Historicamente conhecido por valorizar tramas de tons políticos (vide "Tropa de Elite", laureado com o Urso de Ouro de 2008), o evento germânico abriu vaga em sua sessão hors-concours para essa produção da Netflix, prevista para chegar ao streaming no próximo dia 1°, à luz do carisma de Sandler. A grife de seu realizador, o sueco John Renck, diretor de TV que rodou a minissérie "Chernobyl" (2019), conta muito. Mas a chance de ver a estrela de "O Paizão" (1999) se reinventar conta mais.

Esta semana, Sandler dedicou parte de seu tempo a homenagear seu colega de "Um Maluco No Golfe" (1996), Carl Weathers, o Apollo Creed da franquia "Rocky", morto no dia 1° deste mês. O filme pode ser visto na Amazon Prime e ilustra o espírito galhofeiro do ator, que já se arriscou pelas veredas do drama várias vezes, com destaque para "Embriagado de Amor", que rendeu o Prêmio de Melhor Direção a Paul Thomas Anderson, há 22 anos. Em 2007, "Reine Sobre Mim" também explorou sua habilidade de levar plateias ao choro, assim como fez no esquecido "Homens, Mulheres & Filhos" (2014). Mas sob a batuta de Renck ele promete dar um passo além.

Dublado no Brasil por Alexandre Moreno desde meados nos anos 1990, Sandler ajudou Renck a tirar do papel o romance "Spaceman of Bohemia", de Jaroslav Kalfar, que se transformou em "O Astronauta" depois de passar pelo tratamento dramatúrgico do roteirista Colby Day.

Nessa adaptação, cabe ao bamba do riso visto em sucessos como "Clixk" (2006) interpretar Jakub Procházka, tcheco que se tornou o primeiro astronauta de seu país. Carey Mulligan está a seu lado no elenco, no papel da companheira de Procházka. Paul Dano, Kunal Nayyar e Isabella Rossellini também estão no elenco.

Berlim parece curiosa para entender o que Sandler há de fazer no espaço sideral, buscando uma consagração há muito merecida aos olhos da crítica. Existem muitos pontos de virada no caminho do ator, encarado como o mais rentável nome da comédia americana no audiovisual desde 1998, ano do inesperado fenômeno "O Rei da Água". Um deles foi sua indicação ao Prêmio Anual do Sindicato dos Atrizes e Atores de Hollywood. Ao selecionar as melhores interpretações de 2022 pra cá, o Screen Actors Guild indicou o midas da gargalhada para concorrer à sua estátua pelo bom desempenho dele em "Arremessando Alto" ("Hustle", 2022), de Jeremiah Zagar. Ele não levou o troféu, mas ampliou seu prestígio. Esse título é um drama esportivo com toques de humor (de leve) hoje que está em cartaz na Netflix.

Produtor de peso, Sandler brilha em "Arremessando Alto" no papel de um caça-talentos do basquete, Stanley Sugerman, que roda o mundo em busca de um ás das quadras até descobrir um gigante espanhol, Bo Cruz (vivido por Juancho Hernangomez). Não há cesta que ele não acerte, nem drible que ele perca. O problema está no fato de Bo não domar sua fúria.

Sandler é um dos medalhões pop que vão estar na Berlinale a partir da semana que vem, a começar pela chegada de Cillian Murphy (astro de "Oppenheimer", atualmente em disputa pelo Oscar), que protagoniza o supracitado "Small Things Like These", de Tim Mielants. No longa, que abre Berlim, Cillian vive um trabalhador das minas de carvão assolado por segredos de sua comunidade no Natal de 1985. Antes de sua exibição, o evento vai prestigiar o júri, cuja presidência ficou a cargo da atriz Lupita Nyong'o, de "Pantera Negra" (2018), ganhadora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por "12 Anos de Escravidão" há uma década.

Tem sangue jovem na lista em competição pelo Urso de Ouro, como a franco-senegalesa Mati Diop, a italiana Margherita Vicario e o mexicano Alonso Ruizpalacios. Tem também medalhões: vide o mauritano Abderrahmane Sissako, os franceses Bruno Dumont e Olivier Assayas e o sul-coreano Hong Sangsoo. A própria Alemanha sai em campo com o veterano Andreas Dresen. Entre as promessas sul-americanas encaradas como potenciais competidoras, foi selecionada uma produção colombiana que assume um hipopótamo como protagonista: "Pepe", de Nelson Carlos De Los Santos Arias. Ou seja: o que não falta é diversidade, que estará em campo até o dia 24, quando o ganhador do Urso de Ouro for anunciado por Lupita.

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