Maré pop em Roterdã

'Konvoy', longa escandinavo sobre a II Guerra, ganha consagração no evento holandês

Por Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

'Konvoi' é um épico norueguês ambientado num navio em tempos de guerra

Existe um rol de festivais classe AA no cinema - incluindo os de Berlim, Cannes, Locarno, San Sebastián e Veneza - que abre suas atividades, ano após ano, desde 1972, via Holanda, a cada nova edição de Roterdã, que, neste arranque de 2024, reverenciou o Brasil com nove filmes de CEPs nacionais. Foi lá que nasceu o fenômeno "O Som Ao Redor", de Kleber Mendonça Filho, há 12 anos.

Nesta reta final, pouco antes de seu encerramento, no domingo, a 53ª edição do evento valoriza uma produção escandinava de tons políticos sobre a II Guerra: o norueguês "Konvoi", de Henrik Martin Dahlsbakken. O longa virou uma sensação em suas projeções em telas holandesas e tem mais uma exibição nesta sexta-feira.

Dahlsbakken retrocede no tempo e no espaço até 1942, quando a Alemanha invade a União Soviética. Naquele momento, os Aliados ficaram com a responsabilidade de enviar armas para ajudar na luta. Uma espécie de comboio ártico de navios é enviado para combate, mas ele não está equipado para a batalha. Apesar disso, uma escolta protege as embarcações de ataques aéreos. De repente, é dada uma ordem de dispersão. Porém, um navio da Noruega, ciente de seus deveres éticos, decide continuar no mar, em sua missão, mesmo correndo risco. Desse enredo nasce um candidato a cult.

Houve lugar para o pop no evento, como comprovam os elogios a "Blackout", de Larry Fessenden, que é um thriller de horror. Em seu roteiro, o pintor Charley (Alex Hurt) regressa à sua cidade natal carregando consigo uma maldição: a licantropia. Em noites de lua cheia, ele se transforma em lobisomem.

O fator pop de Roterdã se faz notar ainda na boa acolhida ao filme de ação "Steppenwolf", de Adilkhan Yerzhanov. E um thriller padrão "John Wick", com CEP no Cazaquistão, ressalta a evolução do diretor de "A Doce Indiferença do Mundo" (2018), num desafio às leis da gravidade. Carregado de elementos da obra-prima "Rastros de ódio" (1956), o longa assume como seu John Wayne um criminoso que se faz passar por policial (papel do genial Berik Aitzhanov) que, em meio a uma guerra civil, ajuda uma mulher incapaz de falar (Anna Starchenko) a encontrar seu filho. A angústia dela é salvar o menino de traficantes de órgãos. Já ele só quer se aproveitar da situação para lucrar. Pelo menos até a consciência social derrubá-lo, numa rasteira ética. As sequências de tiroteio e de luta são de mesmerizar olhos.