CRÍTICA FILME - OS FAROFEIROS 2: Ainda hilário, na marca da ousadia

Por Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Longa repete fórmula do blockbuster que levou 2,6 milhões de pagantes aos cinemas

Faz tempo... muuuuuito tempo... que uma comédia hollywoodiana não vira um estouro pop. A última foi "Ted", de Seth MacFarlane, com Mark Wahlberg. Isso foi há... 12 anos. Há muitas razões para essa derrapada do gênero em telas americanas, como as crises econômicas por lá - na virada Obama-Trump-Biden - e como as patrulhas ideológicas sobre o riso.

Já no Brasil, ainda que esses aparelhos de censura estejam cada vez mais ferozes, o filão vingou... e ainda vinga... sobretudo por conta da sinergia de uma dupla autoralíssima: o roteirista Paulo Cursino e o diretor Roberto Santucci. Unidos durante a feitura do êxito comercial "De Pernas Pro Ar" (2010), eles fundaram franquias ("Até Que A Sorte Nos Separe"), consagraram nas telonas estrelas já famosas na TV (Leandro Hassum e Ingrid Guimarães) e emplacaram via streaming o filme de Boas Festas mais bem acolhido (e mais encantador) de nosso audiovisual: "Tudo Bem No Natal Que Vem" (2020). Fizeram tudo isso sempre peitando interditos morais, numa estrutura classificada com uma expressão por vezes indigesta na indústria: a "neochanchada". O termo, cunhado em 2012, refere-se a longas-metragens de humor que retratam as subjetividades das classes que "emergiram" no Brasil (ou seja, ampliaram seu poder de consumo) nos últimos 20 anos. A saga da franquia "Os Farofeiros" é uma delas, das boas.

O primeiro, lançado em 2018, vendeu 2.604.658 ingressos, consagrando-se como blockbuster. O segundo chegou às telas na quinta. O desafio de Santucci e Cursino, desta vez, é provar que, depois do degelo da pandemia, num tempo de restrições moralistas diversas, a gargalhada rasgada que eles buscam ainda pode ser rentável, ainda pode ser a maior diversão.

Bem... de boas atuações a parte dois está repleta, a se destacar a de Aline Campos, que virou a Goldie Hawn do Brasil, sempre com a expressão de perplexidade precisa nas horas de apuro.

É igualmente imponente a composição de Antônio Fragoso como Alexandre, gerente de um time de vendedores que ganha um feriadão num resort da Bahia e se vê forçado - por imposições de sua chefia - a levar seus camaradas consigo. Lima (Maurício Manfrini, o Paulinho Gogó, que é um ímã de risadas), Rocha (Charles Paraventi) e Diguinho (Nilton Bicudo) embarcam com ele no que vai ser a "roubada" do ano.

Levam filhas, filhos e companheiras: Renata (Danielle Winitis) Jussara (uma Cacau Protásio impecável no timing da troça), Ellen (a já citada Aline, que não erra uma deixa) e Vanete, vivida por um dínamo do teatro carioca, Elisa Pinheiro. Sempre na leveza, Elisa, com ares de Lois Lane (repleta de sacadas de ternura), e Danielle (com amplo ferramental cômico) dão a medida da doçura de uma ciranda de quiprocós. A sequência do toboágua GG é para ficar nas retinas.

Por vezes, o uso de certos termos e representações hoje "cancelados" pela sociedade pode irritar alguns, em parte por Cursino e Santucci operarem nas raias da provocação, bem escudados na fotografia de Marcelo Brasil.