Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Garimpo argentino no prestigioso Bacifi

Doll Woman | Foto: Divulgação

Iniciado na quarta-feira (17), o Bafici, um dos festivais de maior prestígio da América Latina, preparou uma triagem exemplar de estéticas dos mais variados cantos do planeta em sua edição de n° 25, que vai até o dia 28. Confira a seguir os achados do evento.

O SONHO DA SULTANA ("El Sueño De La Sultana"), de Isabel Herguera: Nascida em San Sebastián, no norte da Espanha, em 1961, e consagrada no cenário mundial do cinema de animação com os curtas "Bajo La Almohada" (2012) e "La Gallina Ciega" (2005), a diretora desta pérola feminista fez de sua terra natal o berço para sua estreia em longas-metragens. Sua direção de arte arrebatou o festival anual cidade, encantando representantes da crítica internacional e a classe artística. Saiu de lá com o Prêmio Irizar Basque. Seu tratado feminista parte de um conto sci-fi indiana de 1905 sobre uma nação utópica chamada Ladyland, onde as mulheres estão no Poder.

EL ROMÁNTICO, de Belina Zavadisca: Delicada produção documental argentina. Em sua narrativa, Bruno Gelber, pianista portenho consagrado, abre sua vida para as câmeras, num relato que evoca o "Santiago" (2007), de João Moreira Salles. Fã de telenovelas, aficionado por signos, ele sonha ser o homem mais belo do mundo.

COMANDANTE, de Edoardo de Angelis: O diretor do premiado "Indivisibili" recria a II Guerra Mundial sob os códigos de um filão de gênero que é um imã de sucesso, vide "Maré Vermelha" (1995) e "A Caçada ao Outubro Vermelho" (1990): os filmes de submarino. Mas seu maior chamariz é a escolha de um dos astros de maior talento e popularidade da Itália hoje: o romano Pierfrancesco Favino. Cabe a ele dar vida ao oficial militar Salvatore Todaro (1908-1942), famoso por seu humanismo no mar.

DOLL WOMAN, de Tokio Oohara: Eis um belíssimo representante do cinema japonês, que fala da obsessão de uma mulher por colecionar bonecas. Ela caça a carcaça de brinquedos pelas ruas, por vezes transpondo o limite da legalidade. Um dia, conhece um homem que tem igual compulsão. Como se relacionar com ele?

A PAIXÃO SEGUNDO GH, de Luiz Fernando Carvalho (Brasil): Num "bloco do eu sozinho", radical, mas afetivo, Maria Fernanda Cândido brinda o cinema com seu talento e carisma numa atuação solo em que reage, com uma suavidade de gestos, ao texto de Clarice Lispector (1920-1977), publicado em 1964. A trama esbanja existencialismo: Depois de despedir a empregada, G.H. inicia uma faxina no quarto de serviço e vê uma barata. Enojada do inseto, ela decide esmagá-lo. Nesse gesto, diante da massa pastosa e branca da barata morta, ela embarca num processo de desmontagem de sua condição humana.

LA ESTRELLA QUE PERDI, de Luz Orlando Brennan: Um drama de mãe e filha, que tem o teatro como pano de fundo e conta com o talento de Mirta Busnelli e Ana Pauls. Na trama, uma atriz de prestígio ensaia uma peça comercial, sem grandes méritos estéticos, no empenho de se manter na crista da onda. Mas sua caçula resolve sair de casa, deixando o ninho vazio.

1960, de Rodrigo Areias: Um diário afetivo, em imagens de super-8, do arquiteto Fernando Távora, que funciona como um diário e como um registro das transformações de Portugal num período de mudanças políticas na Europa.