Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Pedro Antonio: 'O fazer rir não deve ficar refém do preconceito'

Pedro Antonio, cineasta | Foto: Divulgação

Os 120 mil ingressos vendidos por "Evidências do Amor", com Sandy Leah e Fábio Porchat, em sua arrancada, deram ao cinema brasileiro um potencial sucesso e consagraram, uma vez mais, a habilidade que o diretor Pedro Antonio tem para conversar com plateias tamanho GG. Há 15 anos, ele vem edificando uma das carreiras de mais alto teor de acerto do país nas comédias, seja em séries e humorísticos ("Lady Night", "2020 volts"), seja em longas, como a franquia "Um Tio Quase Perfeito" (2017-2021). Na entrevista a seguir, concedida de um set em Guarulhos (SP), onde assina a coordenação da quarta temporada do reality "LOL", o cineasta - filho da produtora Gláucia Camargos e do diretor Paulo Thiago (1945-2021) - fala sobre sua relação singular com o humor.

O tipo de comédia que você faz segue um padrão menos varejão, mais preocupado com as inquietudes dos personagens do que com a piada. Que humor é esse?

Pedro Antonio: Gosto das comédias de Billy Wilder, que iam por essa linha que você diz. Há sempre uma preocupação, no meu cinema, que a narrativa envolva como um todo e a situação cômica seja a cereja do bolo. A experiência de vida dos personagens precisa interessar tanto quando a piada. Meu modo de fazer isso é apostar em extrair algo de situações corriqueiras de onde nada se espera. Em "Um Tio Quase Perfeito", o fato de o protagonista não saber usar um secador rende risos. É um olhar crítico para a realidade, que vem da minha educação do olhar. Além de Wilder, eu consumo outros filmes. Para "Evidências do Amor", vi "Questão de Tempo", Adam Sandler, Ben Stiller... Do Brasil, gosto muito de "Os Normais" e de "Comédia da Vida Privada". São narrativas de personagem.

Como fazer rir com tantas patrulhas que temos hoje em dia?

Gosto de público. Faço filmes pro público, para plateias amplas. Experimento com a certeza de que fazer humor é um ato de rebeldia e que algo engraçado para um nem sempre tem graça para outro. A psicologia do outro precisa ser levada em conta. O ponto central é: o fazer rir não deve ficar refém do preconceito. As ações cômicas não se perderam. O que se perdeu foi o desgaste de certos temas, sobretudo as piadas que apostam nas características físicas de alguém. Não há sentido nelas. Agora, a dificuldade da comédia não é diferente da dificuldade em se fazer drama, ação, suspense. "Homem de Ferro", lá em 2008, foi uma revolução. Imagina o que é para a Marvel arrancar algo novo de um "Homem de Ferro 4". É difícil chamar a atenção.

Como foi lidar com duas grifes já consagradas como Sandy e Porchat numa trama sobre um sujeito que regride no tempo e tenta reaver sua amada perdida quando toca "Evidências"?

O desafio era ter duas grifes que tivessem química. Eles têm. Sinatra, Barbra Streisand, Madonna, Lady Gaga e outros tantos ídolos da música aturam, e bem. Acreditava que Sandy tinha esse potencial... e deu certo. Já o Porchat já dera evidências de uma veia de ator forte.

O cinema que você faz se afina muito com a "Sessão da Tarde", que está comemorando 50 anos em 2024. O que esse programa representa para você?

Ao mesmo tempo que eu ia com meu pai à Cinemateca do MAM, ainda moleque, ver "Aurora", de Murnau, e "A Mãe", de Pudovkin, eu adorava "Os Trapalhões" e curtia muito a experiência de ligar a TV e ser surpreendido por narrativas leves. Numa época em que não havia internet, ver "Esqueceram de Mim" na televisão, à tarde, era uma experiência quase sagrada. Houve um tempo, nos anos 1990, em que Tom Hanks fazia muitos filmes que se moldavam àquele perfil de filme. Até o Spielberg fez também. Esse cinema ajudou a formar meu amor pelos filmes.