Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Sentir medo é a maior diversão

A vampira sanguinária Abigail devora as bilheterias | Foto: Divulgação

 

Apesar de sua aparente fragilidade, a personagem título de "Abigail" escancara presas afiadas sempre que pode e crava os caninos no pescoço alheio e na atenção do público pagante, no Brasil e no exterior. Foi um dos títulos de melhor desempenho no fim de semana passada na venda de ingressos comprovando que o terror (no caso, uma vampira sanguinária) ocupa, e bem, brechas deixadas por superproduções. Nos anos 1980, essa missão cabia a Chuck Norris, Schwarzenegger e outros divos da ação, além das comédias teen. Nos anos 1990, foi a vez de longas de aventura e comédias românticas. Nos anos 2000 e 2010, tramas com super-heróis fatiavam o circuito entre si. Agora, parece que o horror se incumbe de mobilizar o circuito em faixas variadas, sobretudo com cópias dubladas nas salas do subúrbio carioca. É o caso de "Usinho Pooh: Sangue e Mel 2", que estreou ontem.

O singelo personagem que fez a infância de muita gente mais feliz, graças à Disney, ganha um novo e assombroso perfil repaginado como um assassino cruel, com rosto de urso, vivido por Ryan Oliva. É um espetáculo gore (termo que simboliza o excesso de brutalidade explícita, com vísceras à mostra). A direção é de Rhys Frake-Waterfield.

Há cerca de três semanas, "A Primeira Profecia" ("The First Omen") segue firme e forte em nossas telas, narrando os feitos que levaram à gênese de Damien, o Anticristo. A ação se passa num convento italiano onde uma freira investiga estranhos fenômenos. Uma das irmãs é vivida por Sonia Braga.

Esse mesmo universo do noviciado inspira "Imaculada", que estreia na terça que vem, às vésperas do feriado. Nele, a estrela em ascensão do momento, Sydney Sweeney, é uma religiosa, Cecilia, que começa a detectar esquisitas manifestações do Mal em seu mosteiro.

Nos EUA, uma exótica produção que relembra os programas de auditório dos anos 1970 leva o Demônio ao alcance dos horrormaníacos: "Tarde da Noite Com O Diabo" ("Late Night With The Devil"), dos irmãos Cameron e Colin Cairnes. Na trama, o apresentador Jack Delroy (o ótimo David Dastmalchian) anda em crise com a audiência e ensaia uma volta ao estrelato levando uma jovem supostamente possuída a seu talk-show na noite de Halloween de 1977. Uma cerimônia de exorcismo se ensaia enquanto estranhas manifestações abalam a transmissão, com a morte de um dos convidados. A produção ganhou a láurea de melhor roteiro no Festival de Sitges, na Espanha.

Atualmente, um outro festival de língua espanhola, o Bafici, na Argentina, espanta seu público com o candidato a cult macabro "Le Vourdalak", de Adrian Beau. Em seu enredo, um marquês se perde na floresta e vai parar numa casa nada abençoada.

Este ano, o único longa-metragem não americano a ocupar uma vaga entre as dez maiores bilheterias mundiais de janeiro até aqui é um terror sul-coreano: "Exhuma", de Jang Jae-hyun. É de lá que chegam alguns dos mais ousados representantes do filão. Em sua trama, um xamã é contratado para mover um túmulo de lugar, sem medir as consequências de seus atos e as forças satânicas que elas evocam. Sua estreia no Brasil ainda não foi divulgada, mas há uma leva de outros longas de natureza sinistra com lançamento já agendado por aqui. Um deles é "O Tarô da Morte" ("Horrorscope"), no qual um grupo de amigos que tiveram seu mapa astral estudado e decifrado, pelas leis do horóscopo, começam a morrer de maneiras exóticas.

Ou seja, o que não faltam são estratégias cinéfilas para sentir medo... e gostar disso.