Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Marina Provenzzano: 'A música pega a gente pelas tripas'

Marina Provenzzano | Foto: Divulgação

Onipresente em vários streamings, seja com "Bom Dia, Verônica" na Netflix, seja com "Fim" no Globoplay, Marina Provenzzano amplia sua sintonia com o cinema ao assumir o papel da principal locutora da Rádio Fluminense, a Maldita, no filme "Aumenta Que É Rock'n'roll". Seu currículo traz pérolas como "O Grande Circo Místico" e "Mormaço" ao mesmo tempo em que se abre para futuras promessas, como o esperado "Vitrines". Na entrevista a seguir, ela conta ao Correio da Manhã como é sua relação com rock e o quanto sua vivência musical pesou na construção da figura de Alice, personagem essencial para a história roqueira de cariocas e de niteroienses. Seu estilo de atuação fino, sempre atenta às camadas de sentido do silêncio, fazem diferença em cada papel que ela assume.

Qual foi o lugar do rock'n'roll na sua juventude e que bandas ou cantores te formaram e te fizeram a cabeça?

Marina Provenzzano: O rock foi fundamental na minha juventude, porque ele me trouxe a sensação de subversão, de me rebelar contra o que eu não concordava, de desconfiar do que me era apontado como norma. E isso foi no corpo antes de eu começar a entender essas coisas na minha cabeça. A música tem esse poder: pega a gente pelas tripas. Meu primeiro amor de rock foi o Queen, dos internacionais; e Cazuza, aqui do Brasil.

Qual é o recorte político e poético da sua personagem no filme, na relação com Luiz Antônio da rádio Fluminense, a Maldita?

A Alice, minha personagem no filme, é uma das locutoras da rádio. Uma mulher vivendo o fim de um período de muita repressão em um país extremamente machista. A Fluminense FM foi a primeira a ter locução feminina, e ainda exclusivamente feminina. Entrou no filme, praticamente na íntegra, o discurso de abertura da rádio onde o Luiz fala que a rádio acredita no poder transformador da mulher, e literalmente colocou o microfone nas mãos delas, há mais de 40 anos. A Alice é uma mulher dividida, buscando a identidade dela, e ali na rádio é onde ela pode exercitar o berro dela, o grito dela, o "não" dela. E a relação dela com o Luiz Antônio me encanta porque são duas pessoas que se apaixonam pelo o que é torto, furado e maldito da outra.

Que filmes mais marcaram a sua relação com cinema?

Eu sou fundada por filmes como "Bye Bye Brasil", "Oito e Meio", "Persona", "Uma mulher é uma mulher", "Uma mulher sob influência"... A lista é extensa. Ao mesmo tempo amo profundamente tudo que o Yorgos Lathimos faz, desde "Dente Canino" e os filmes do Ruben Ostlund, de "Triangulo da Tristeza".

O que está por vir?

Por vir tenho dois longas. Um é o "Vitrines", de Flávia Castro, feito a partir da vivência dela. É um filme em que a protagonista é uma menina de 10 anos, Ana, que se refugia com os pais e o irmão na embaixada da Argentina no Chile, quando tem o golpe do Pinochet. Faço Daniela, a mãe. Vemos o recorte desse momento através do primeiro amor dessa menina. Tenho ainda "Overman, o filme", dirigidio por Tomás Portella a partir das tirinhas da Laerte. Faço Pane, uma supervilã russa. No momento estou filmando "Vítimas do dia", de Bruno Safadi, nesse novo projeto da Globo. É o Estúdios Globo, que consiste em filmar lá dentro longas.