Xavier Dolan estava a um passo de largar tudo e deixar para trás uma obra que ganhou notoriedade com "Eu Matei Minha Mãe" (2009), realizado quando tinha 20 anos. Foi o estresse gerado por sucateamentos estéticos das salas de exibição no circuito na indústria audiovisual, com pouco espaço para filmes de autor como seu "The Death and Life of John F. Donovan" (2018), nunca lançado no Brasil.
Era hora de parar de filmar segundo o alarme que soava em seu coração. Contudo, o chamado para presidir o júri da mostra Un Certain Regard de Cannes pode adiar seus planos. Fora que o canadense de 35 anos acaba de dirigir uma série, "The Night Logan Woke Up".
"Sou movido pela paixão. O cinema me deu uma consciência de que o desejo pode ser revolucionário", disse o diretor e ator, que ganhou o Grande Prêmio do Júri de Cannes em 2016 por "Até o Fim do Mundo". "A razão de filmar é buscar histórias que narrem a renovação de almas que anseiam por poesia no seu dia a dia, quebrando ordem moral vigente".
Xavier filma em francês, na maioria dos títulos que roda. Conversou com o Correio da Manhã em Paris, antes de sua ida a Cannes, quando foi indicado ao troféu César como melhor ator coadjuvante por "Ilusões Perdidas" (2021). "Sigo atuando para buscar um sentido nas identidades de cada personagem. É um exercício de autocrítica", disse Xavier, que despontou aos olhos da crítica com "Amores Imaginários", exibido em 2010 na mesma Un Certain Regard que ele avalia agora.
Este ano, a maratona carrega alguns dos filmes mais exuberantes de Cannes, como "On Becoming a Guinea Fowl", de Rungano Nyoni, um produção da Zâmbia sobre o impacto de um enterro na vida de uma família. Outro longa que se destaca é "The Shameless", do búlgaro Konstantin Bojanov, sobre o amor entre duas garotas de programa.