Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Ecos do pós-Festival de Cannes

Le procès Du Chien | Foto: Fotos/Divulgação

Deu Sean Baker, e seu conto de fadas ao revês "Anora", na briga pela Palma de Ouro de 2024, o que põe Cannes como um termômetro do que acontecerá nos próximos meses na indústria do audiovisual, além de ter revelado alguns achados nos 45 minutos do tempo regulamentar de sua maratona cinéfila.

Produções francesas tiveram especial destaque, como é o caso da nova versão de "O Conde de Monte Cristo", rodada por Matthieu Delaporte e Alexandre De La Patellière, e estrelada por Pierre Niney. Também da França chama atenção "Le Procès Du Chien", de Latitia Dosch, sobre uma advogada que defende um cãozinho acusado de morder três pessoas. Das vitórias demarcadas pelo júri presidido por Greta Gerwig, a conquista do prêmio de Melhor Direção por Miguel Gomes, com "Grand Tour", abre novas prerrogativas para o cinema português.

Vencedor de uma láurea coletiva dada a suas atrizes e do Prêmio do Júri, o musical "Emilia Pérez" sai da Croisette candidato a blockbuster nas bilheterias, narrando a saga de um chefão de um cartel do México que transiciona de gênero.

Para o Brasil, a boa acolhida a "Motel Destino" amplia a grife autoral de Karim Aïnouz. No longa, um jovem ligado ao crime (Iago Xavier) vai viver um triângulo de prazer e fúria com os gerentes de uma hospedaria de estrada no litoral cearense.

Confira a seguir como o festival já vem ecoando sobre a classe cinematográfica.

Alguns achados

Na retinha final de Cannes, antes de a competição oficial terminar, alguns filmes egressos de mostras paralelas ganharam espaço nobre nas retinas da Croisette. O principal deles foi "Vivre, Mourir, Renaître", de Gaël Morel, um melodrama descabelado e descabelante. Nele vemos uma ciranda amorosa assombrada pelo HIV. Nos anos 1990, o condutor de trem Sammy (Theo Christine), casado com Emma (Lou Lampos), vai se apaixonar pelo fotógrafo Cyril (Victor Belmondo), que é soropositivo. A relação entre o trio gravita da doçura ao medo, sempre com laços de aliança.

Na Quinzena de Cineastas, reverberou muito (e bem) "La Prisonnière De Bordeaux", de Patricia Mazuy. É um ensaio sobre alteridade no bastidor do universo carcerário. Duas mulheres de classes sociais diferentes, Mina (Hafsia Herzi) e Alma (Isabelle Huppert), vão formar uma aliança conforme visitam seus companheiros numa prisão.

No terreno do suspense, Cannes saiu eletrizado do thriller "The Surfer", de Lorcan Finnegan, com Nicolas Cage pegando onda - ou tentando. É a saga de um homem sem nome, fracassado em vários aspectos de sua vida, que sonha surfar na Austrália de sua infância. Mas um grupo de valentões vai impedi-lo.