Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

CRÍTICA FILME - A FILHA DO PALHAÇO: No picadeiro da maturidade

Demick Lopes tem atuação devastadora | Foto: Divulgação

Integrante do coletivo que reoxigenou as artérias do cinema brasileiro em 2010, com "Estrada para Ythaca", Pedro Diógenes tornou-se uma das vozes mais potentes do Ceará nas telas na atualidade, correndo o mundo com longas-metragens que casam (bem) emoção e pesquisa narrativa.

O universo que ele explora agora, no seu exercício autoral (sempre falando da solidão) é a seara dos artistas circenses, homenageados na trupe de personagens do belo "A Filha do Palhaço".

É um exercício felliniano do cinema cearense menos preocupado com o lirismo e mais atento aos quebra-molas nas estradas (da vida) por onde os circos passam, que sejam os circos de um artista só.

Na trama, Joana (Lis Sutter), uma adolescente de 14 anos, aparece para passar uma semana com o pai, Renato (Demick Lopes), um humorista que apresenta seus shows em churrascarias, bares e casas noturnas de Fortaleza. Ele ganha a vida a interpretar a personagem Silvanelly, uma mistura de cantora e clown, com Almodóvar nas veias. Apesar de mal se conhecerem, pai e filha terão que conviver durante essa semana, quando vivem novas experiências e sentimentos. Esse tempo juntos vai transformar profundamente a vida dos dois. O público se transforma junto deles, sobretudo quando é embevecido pela afiada direção de arte de Thaís de Campos.

A fotografia de Victor de Melo jamais se assanha e entra em modo exibicionismo. Tudo é conduzido pela força dos diálogos e pelo olhar ferido de Renato, nas pálpebras cheias de vida de Demick, cuja atuação é devastadora. É um filme se maturidade, fiel ao filão dos reencontros paternos.