Palma que reluz autoralidades

Com novo filme de Karim Aïnouz em concurso, Festival de Cannes abre sua 77ª edição nesta terça, tendo em sua programação .doc de Oliver Stone sobre Lula

Por Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Festival de Cannes logomarca

Primeira vitrine do aguardado documentário de Oliver Stone sobre Luiz Inácio Lula da Silva, o 77º Festival de Cannes começa nesta terça-feira com o Brasil em seu radar. Tem Karim Aïnouz na competição oficial, com "Motel Destino". Tem "Amarela", de André Hayato Saito, na briga pelos prêmios de curta-metragem. Haverá ainda uma exibição de "Bye Bye Brasil" (1979), de Carlos Diegues, na ala dos Clássicos, num tributo ao casal de produtores Lucy e Luiz Carlos Barreto.

Há um perfume de história de amor (mas com fragrâncias de exclusão) em "Baby", de Marcelo Caetano, que concorre na Semana da Crítica. E, na prestigiosa Quinzena de Cineastas Gabriela Carneiro da Cunha e Eryk Rocha refletem ideias do xamã Davi Kopenawa em "A Queda do Céu". Cada título desse representa a diversidade de nossa produção na contemporaneidade.

"Estamos de volta, depois de tudo de ruim pelo que passamos", disse Karim ao Correio da Manhã quando seu "Motel Destino foi anunciado entre os 22 competidores da Palma de Ouro de 2024.

Ano passado, ele disputou o prêmio falando da monarquia inglesa com "Firebrand", que segue inédito em circuito comercial por aqui. Tinha Alicia Vikander e Jude Law como estrelas. Agora, tem Fábio Assunção ao lado de um elenco de novos rostos, como Nataly Rocha e Iago Xavier, seus protagonistas. "É uma homenagem ao cinema noir e à pornochanchada", define Karim. "Volto filmando na minha terra, com uma nova geração".

Selecionados por teste entre mais de 500 atores, Nataly e Iago encaram as engrenagens do que Karim idealizou como sendo um thriller erótico. "Motel Destino" se define como um retrato íntimo de uma juventude que teve seu futuro roubado por uma elite tóxica e esmagadora, contra a qual a insubordinação e revolta são, não raramente, a saída possível. É uma saga do encontro de um rapaz em fuga, totalmente vulnerável, com uma mulher aprisionada pelas dinâmicas de um casamento abusivo.

"Depois de quatro anos de pesadelo, que foi aquele governo horrível, voltamos... com uma cicatrização enorme. É muito feliz viver isso", diz o realizador, laureado com o Prix Un Certain Regard em 2019, por "A Vida Invisível".

Continua na página seguinte